Folha de S. Paulo


Dirigentes europeus reagem com críticas a gabinete de Theresa May

"É um dos maiores gabinetes de direita da era moderna." O líder do SNP (Partido Nacional Escocês) no Parlamento em Londres, Angus Robertson, não exagera. O primeiro escalão da premiê britânica, Theresa May, revela quão eurocética e conservadora deve ser a gestão dela. É um gabinete muito mais à direita do que previam analistas.

O movimento de May assustou até repórteres do conservador "The Telegraph". O jornal classificou de "abate" a retirada de ao menos nove secretários do governo do antecessor, David Cameron.

Nas palavras do diário, "é uma das mais brutais reformas na história política moderna britânica".

Obviamente, pelo histórico do personagem, o principal sinal do radicalismo ideológico do governo foi a nomeação do fanfarrão e anti-Europa Boris Johnson, ex-prefeito de Londres, para as Relações Exteriores.

O chanceler francês, Jean-Marc Ayrault, reagiu dizendo que Johnson é um "mentiroso" e sua nomeação indica o caminho britânico após o plebiscito de separação da UE.

O novo secretário britânico não é um parceiro de negociação "confiável", segundo Ayrault. "Vocês sabem muito bem qual o estilo e o método dele", afirmou.

O ministro alemão Frank-Walter Steinmeier chamou o comportamento de Johnson de "irresponsável", "ultrajante" e "enganador".

É de fato uma escolha ousada (e arriscada), que intriga e preocupa a vizinhança europeia, mas é a nomeação de Philip Hammond (a primeira anunciada por May) para comandar as Finanças que tende a ser o indicativo mais eloquente do que veremos na rua Downing.

Ex-secretário de Relações Exteriores de Cameron, Hammond, prestigioso membro do Partido Conservador, é um "linha-dura" fiscal, disposto a apertar ainda mais as contas públicas já sufocadas pelo antecessor, George Osborne, desprezado por May.

O "Financial Times" classifica Hammond como um ex-empresário de "abordagem fria da economia".

Ferrenho defensor da City (o todo-poderoso centro financeiro de Londres), Hammond conduzirá a reação das finanças ao choque do divórcio da UE com a missão de manter longe o risco de uma recessão.

Hammond, aliás, enviou um recado aos vizinhos sobre o que pensa em relação aos termos do rompimento: "Precisamos deixar a UE de uma maneira que proteja a economia britânica."

Soma-se também ao núcleo duro de governo a figura de David Davis, escolhido para negociar formalmente os termos de saída da União Europeia. Ele será o secretário do "brexit".

Ex-secretário para assuntos europeus, Davis perdeu a briga pela liderança do Partido Conservador para David Cameron em 2005. Agora, com Cameron escanteado, ele tem pressa para sair da UE e quer formalizar o pedido até o começo do ano que vem.

Rival da própria May na disputa para suceder Cameron, Andrea Leadsom ficou com a pasta da Agricultura, um dos setores potencialmente mais vulneráveis frente ao "brexit", pela perda dos subsídios europeus.

Diante de um gabinete desse gabarito para negociar (ou não negociar), o presidente francês, François Hollande, expressou o que provavelmente outros colegas europeus pensam nos dias de hoje: "Quanto antes May agir para o Reino Unido sair da UE, melhor será a relação entre o bloco e os britânicos".


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