Folha de S. Paulo


Alvos de 'campanha', jovens franceses se impressionam com desfile militar

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Amigos Benjamin (e) e Florian, 18 anos, assistiam ao desfile de 14 de Julho pela primeira vez.
Amigos Benjamin (e) e Florian, 18 anos, assistiam ao desfile de 14 de julho pela primeira vez.

De um lado, as cores da bandeira da França: azul, branco e vermelho. Do outro, a mensagem direta: "aliste-se". Assim eram as bandeirinhas distribuídas para os visitantes ao longo da avenida Champs-Élysées, em Paris, durante o desfile militar de 14 de julho, nesta quinta-feira. A homenagem deste ano foi para os jovens que se engajam no serviço militar, em um período de forte tensão em que o país sofre a ameaça de novos atentados terroristas.

Além dos militares que participaram das comemorações oficiais, os jovens estavam em peso na plateia –e para eles, assistir à passagem dos aviões de caça, os tanques e helicópteros é não apenas o momento de admirar a frota nacional, como reconhecer os esforços das Forças Armadas em garantir a segurança dos franceses todos os dias. Para alguns, o espetáculo desperta a vontade de se envolver no mesmo combate.

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É o caso do estudante de Direito malinês Boubacar Coulibali, 26, que está na França há cinco anos para cursar a faculdade. Desde que chegou, ele assistiu aos desfiles de 14 de Julho e desta vez não foi diferente. Coulibali cogita se alistar na Legião Estrangeira quando encerrar o mestrado.

"Venho porque o meu país vive uma guerra contra o terrorismo, e o presidente François Hollande e a França enviaram soldados para frear os jihadistas no norte do Mali. Isso me deu muito gosto pelas Forças Armadas", afirmou. "Tenho medo do terrorismo, porque fui muito bem acolhido aqui e não quero que os franceses sejam marcados de novo por atentados tão horríveis quanto os de 13 de novembro, que estão na memória de todos nós."

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Boubacar Coulibali é grato à França por combater terroristas no seu país, Mali.
Boubacar Coulibali é grato à França por combater terroristas no seu país, Mali.

AVIAÇÃO CIVIL É MENOS INTERESSANTE DO QUE A MILITAR

A carreira militar também está nos planos de Florian, 18, que se prepara para iniciar os estudos de engenharia. Ele gostaria de ser piloto e, nesta quinta-feira, assistia pela primeira vez à parada militar nacional. "Acho que o engajamento militar é mais interessante do que a aviação civil", indica. "À princípio, eu não me interessaria por missões de guerra, embora eu valorize muito o combate ao terrorismo no qual o meu país se envolveu", disse o jovem.

Para ele, o 14 de julho é uma data importante por "unir" todos os franceses –mas a sensação de insegurança nunca está muito longe, apesar de todo o aparato policial preparado para a ocasião. "É um dia um pouco tenso, porque as multidões sempre podem ser alvo de algum problema", lamenta.

Como Florian, seu amigo Benjamin, 18, também foi à Champs-Élysées atraído pela exibição da aviação francesa."Sem dúvida, é algo a que todo francês deve assistir pelo menos uma vez na vida", avalia o estudante, que se diz despreocupado com o risco de ataques. "Se algo for acontecer, não há nada que eu possa fazer, portanto faço questão de viver normalmente", garante.

"CELEBRAR A LIBERDADE"

Por essa linha também segue Corentin, 17, que acaba de terminar o ensino médio."Estar aqui é celebrar a liberdade e os nossos valores. Em um lugar movimentado como esse, tenho mais medo dos furtos do que dos terroristas", compara.

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Casal Corentin e Camille veio do norte da França para assisitir aos desfiles em Paris.
Casal Corentin e Camille veio do norte da França para assistir aos desfiles em Paris.

A namorada dele, Camille, 17, não se interessa pela carreira militar, mas faz questão de prestigiar o trabalho dos soldados. "Acho importante demonstrar que nos interessamos por eles, dar o nosso apoio. Vir aqui também nos ajuda a compreender melhor para o que servem as Forças Armadas", comenta.

Para ela, o 14 de julho é um momento em que os franceses se unem, apesar dos tempos difíceis –com crise econômica, conflitos sociais e até o verão chuvoso deste ano em Paris. "Faz bem estarmos todos os aqui, pensarmos em outras coisas e mostrarmos que, embora estejamos cheios de problemas, estamos vivendo normalmente", diz a jovem.

BRASILEIROS COMPARAM COM O 7 DE SETEMBRO

Em busca de um bom lugar para assistir ao desfile também estava um grupo de estudantes brasileiros de engenharia. Flávia, Gustavo e Letícia, todos de 22 anos, notaram as grandes diferenças que separam a data nacional na França e no Brasil.

"Eu só fui a um desfile de 7 de setembro, mas aqui é muito maior, eles dão muito mais importância para essas coisas. É interessante ver a diferença das culturas", afirma Letícia. "Eu nunca fui a um desfile militar no Brasil, mas aqui eu sei que essa data é muito importante e quis vir. Sem contar que, nas aulas de história, a gente aprende muito sobre a Revolução Francesa e a queda da Bastilha", recorda Gustavo.

Os três amigos estavam cientes da ameaça de atentados que ronda grandes eventos como o 14 de julho, mas mesmo assim estavam se sentindo seguros. Eles só pretendem encerrar as comemorações de madrugada, com o tradicional show de fogos de artifício na Torre Eiffel. "Eu tenho um certo receio, mas percebi que a segurança está muito forte aqui. Eles controlam a entrada, a saída, tudo. Acho que eles estão muito bem preparados para dar segurança para tanta gente", atesta Flávia.


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