Folha de S. Paulo


Países do Mercosul adiam decisão sobre Caracas na Presidência para 5ª

Carlos Lebrato - 3.fev.2016/Anadolu Agency/Getty Images
MONTEVIDO, URUGUAY - FEBRUARY 3: A general view of the building where the meeting of Ministers of Health of the Southern Common Market (Mercosur) and Community of Latin American and Caribbean States took place in order to discuss the advance of the Zika virus in the Latin America, in Montevideo, Uruguay, on February 3, 2016. The ministers met to exchange scientific findings and coordinate countermeasures. (Photo by Carlos Lebrato/Anadolu Agency/Getty Images) ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Fachada do prédio da sede do Mercosul, em Montevidéu

Representantes do Mercosul reunidos nesta segunda-feira (11) em Montevidéu não conseguiram superar divergências e adiaram a decisão sobre a polêmica transmissão da presidência rotativa do bloco à Venezuela.

Segundo a Folha apurou, nas discussões entre Uruguai, Brasil, Argentina e Paraguai, prevaleceu a proposta brasileira de que os países-membros voltem a discutir a transferência só no próximo mês.

Agosto é o prazo final para que a Venezuela incorpore todas as regras tarifárias, comerciais e legais do bloco —e o argumento do governo de Michel Temer é que Caracas só deveria assumir a presidência quando tivesse adotado todas elas.

O Uruguai, no entanto, sugeriu que os representantes consultassem os chefes de Estado do bloco e voltassem a se reunir na quinta-feira (14), também em Montevidéu.

Funcionários do governo brasileiro anteciparam à reportagem que o Brasil não participará, uma vez que sua posição já está clara. O Paraguai também não deve ir.

Para a reunião desta segunda, o Brasil enviou um subsecretário-geral —o embaixador Paulo Estivallet— no lugar do chanceler, José Serra. A Argentina também mandou um vice-ministro.

Após o encontro, o chanceler uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, disse que "cada um dos países mantém sua posição", mas que eles "se deram um prazo até quinta para que se façam as consultas necessárias entre todos os países".

Isso desmente a declaração feita horas antes pela chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, de que a Venezuela receberia a presidência rotativa nos próximos dias.

O Uruguai deveria encerrar nesta terça (12) seu período de seis meses à frente do Mercosul e, pela ordem alfabética, seria a vez da Venezuela.

NO BANHEIRO

Rodríguez esteve em Montevidéu, mas não participou das discussões. Brasil e Paraguai se recusaram a ter uma reunião com a Venezuela, já que, segundo os dois países, este era um debate só entre os membros-fundadores.

A venezuelana chegou a ser recebida, na Chancelaria uruguaia, por Nin Novoa e pelo vice-chanceler argentino, Carlos Foradori, que teriam lhe explicado a decisão do Brasil e do Paraguai.

Aos jornalistas Rodríguez disse que os representantes brasileiro e paraguaio se esconderam num banheiro do prédio para não encontrá-la.

O chanceler paraguaio, Eladio Loizaga, disse que, se fizeram isso, "é porque a necessidade fisiológica nos chamou". Rodríguez acusou Brasília, Assunção e Buenos Aires de "violar estatutos" do bloco.

O encontro havia sido convocado pelo Paraguai, que pretende barrar a Presidência venezuelana sob a justificativa de que o governo chavista viola direitos humanos e persegue a oposição.

Críticos dizem que o Paraguai busca retaliar sua suspensão do bloco, em 2012. A exclusão, que durou um ano, eliminou a única resistência à adesão da Venezuela ao Mercosul, no mesmo ano.

O Brasil usa justificativa jurídica contra Caracas, afirmando que o país cumpre hoje só 55% das regras do bloco. A Argentina diz querer assumir no lugar da Venezuela.

A decisão sobre a transmissão da Presidência precisa ser tomada por consenso, no Conselho do Mercosul, formado por todos os chanceleres.


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