Folha de S. Paulo


Nigel Farage renuncia ao posto de líder do UKIP

Dez dias depois da vitória, em plebiscito, do voto pela saída britânica da União Europeia, Nigel Farage, um dos mais ferrenhos defensores do chamado "Brexit", anunciou nesta segunda (4) sua renúncia ao posto de líder do Ukip (Partido pela Independência do Reino Unido).

Farage, 52, justificou a decisão dizendo já ter feito a sua parte e que, a partir de agora, "não poderia conquistar mais nada". "Durante o plebiscito, eu disse que queria meu país de volta, agora eu quero a minha vida de volta", afirmou o político ultranacionalista.

Peter Nicholls/Reuters
Nigel Farage, the leader of the United Kingdom Independence Party (UKIP), leaves after a news conference in central London, Britain July 4, 2016. Farage said he will step down as leader of UKIP. REUTERS/Peter Nicholls ORG XMIT: LON111
Nigel Farage após coletiva de imprensa em que anunciou sua renúncia ao cargo de líder do Ukip

A renúncia se soma à dança das cadeiras e à pressão política que atingiu também os altos escalões dos dois principais partidos britânicos —Conservador e Trabalhista— e que colocou o Reino Unido em um vácuo político num dos momentos mais sensíveis de sua história moderna.

No dia seguinte ao plebiscito, o premiê David Cameron, líder dos conservadores, prometeu apresentar sua renúncia, iniciando uma disputa política por sua sucessão em meio às crescentes incertezas sobre o futuro do Reino Unido fora do bloco do europeu.

Na última semana, o principal nome para suceder Cameron, o ex-prefeito de Londres Boris Johnson –que, com Farage, esteve na linha de frente pela saída britânica da UE– desistiu da disputa, embaralhando ainda mais o cenário político.

Na oposição, o clima de incerteza não é menor. O líder trabalhista, Jeremy Corbyn, enfrenta a pressão dos correligionários para deixar o posto após seu fraco desempenho para conter a vitória do Brexit.

Mais de três quartos dos parlamentares trabalhistas negaram seu voto de confiança após o plebiscito e dois terços dos membros do gabinete paralelo (que monitora ações do governo) renunciaram.

Nesta segunda (4), Corbyn divulgou um vídeo em que pede união no partido horas depois de a deputada trabalhista Angela Eagle pressionar para que o líder renuncie "logo" sob o risco de ser desafiado por ela no voto.

"É um risco o fato de o Reino Unido não ter uma liderança forte e clara quando mais precisa dela", diz o cientista político Matthew Flinders, da Universidade de Sheffield, e co-autor de "The Oxford Handbook of British Politics".

Segundo Flinders, os dois principais partidos "não conseguem apresentar, no momento, um líder que ofereça uma narrativa que explique o que está acontecendo".

SUCESSÃO NO UKIP

A renúncia surpreendente de Farage abriu espaço para especulações de que o partido poderia agora ter um líder menos "polarizador". Entre os nomes mais cotados estão Steven Woolfe, porta-voz a sigla para temas de imigração, e o vice-líder Paul Nuttall.

Para Flinders, a rápida desistência política dos principais defensores do Brexit se explica pela descrença dos próprios líderes da campanha sobre uma vitória do voto pela saída. "Eles ficaram surpresos. Não havia um plano para após o referendo", afirma.

A ausência de Johnson e Farage da cena política, contudo, pode ser um entrave para a aplicação do Brexit, aponta o especialista. "O sistema político pode encontrar uma forma de não implementar o voto do referendo: o que vai ser mais fácil agora sem Farage."


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