Folha de S. Paulo


Campanha kirchnerista serviu para lavar dinheiro do tráfico, diz argentino preso

A campanha eleitoral de 2007 da ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner serviu para lavar dinheiro do tráfico de drogas da Venezuela, segundo Ibar Pérez Corradi, preso no Paraguai sob acusação de assassinatos.

Um áudio em que Corradi conta como funcionava o esquema foi divulgado na noite deste domingo (3) no programa Periodismo Para Todos (jornalismo para todos), transmitido em um canal de TV do Grupo Clarín.

Segundo Corradi, donos de farmácias emitiam cheques sem fundos para a campanha para justificar o dinheiro do tráfico que era enviado pelo ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez através de Antonini Wilson, que tentou entrar na Argentina em 2007 com US$ 800 mil.

Há dez dias, investigações da Justiça argentina apontavam que 886 mil pesos (R$ 190 mil) de origem ilegal haviam sido colocados na campanha. Entre os envolvidos no caso, estavam o ex-superintendente de Serviços de Saúde (órgão ligado ao Ministério da Saúde), Héctor Capaccioli, e o ex-gerente da Anses (equivalente ao INSS brasileiro) Sebastián Gramajo, além de quatro executivos do setor farmacêutico ligados às empresas Multipharma, Global Pharmacy e Seacamp.

De acordo com o processo, as empresas não tinham caixa suficiente para fazer as doações à campanha. Uma das empresárias investigadas era Solange Bellone, viúva de Sebastián Forza, um dos três homens assassinados em 2008 no que ficou conhecido como Triplo Crime. O traficante Martín Lanatta, preso pelos assassinatos, afirma que Aníbal Fernández, o ex-chefe de gabinete de Cristina, encomendou o crime para retirar do tráfico os então comandantes do negócio de efedrina (matéria-prima de drogas sintéticas).

Corradi também é suspeito de ser o mandante desses assassinatos e estava foragido há dez dias. Ele foi encontrado no Brasil, em Foz do Iguaçu, e está preso no Paraguai.

Ainda na noite deste domingo, o mesmo programa de TV veiculou uma reportagem sobre doações feitas pelo governo Kirchner à fundação Scholas Ocurrentes –impulsionada pelo papa Francisco– para a construção de uma sede na Argentina. Cerca de 10 milhões de pesos (R$ 2,15 milhões) foram repassados à entidade, mas apenas 40% das obras foram concluídas.

No mês passado, o governo do atual presidente argentino, Mauricio Macri, também havia feito uma doação ao Scholas Ocurrentes. O papa, porém, mandou que o dinheiro fosse devolvido para evitar "eventuais tentações ou erros [de corrupção]" por parte dos diretores da entidade.

O programa Periodismo para Todos, do jornalista Jorge Lanata, foi um dos principais denunciantes de casos de corrupção contra Cristina Kirchner enquanto ela estava no poder. A atração, do Canal 13, estava fora do ar desde o fim do ano passado.

Cristina também recorreu à televisão neste domingo para se defender das recentes denúncias. Em um canal tido como kirchnerista, afirmou que vai sugerir para a Justiça realizar uma auditoria nas obras públicas de seu governo.


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