Folha de S. Paulo


Ataques com drones mataram até 116 civis desde 2009, diz governo Obama

Abdul Salam Khan/Associated Press
Foto tirada com celular mostra suposto carro em que estaria Akhtar Mansour e que foi alvo de bombardeio
Foto de celular mostra suposto carro do líder do Taleban, Akhtar Mansour, atingido por um drone

Entre 64 e 116 civis foram mortos por drones (aeronaves não tripuladas) dos EUA de 2009 até o fim de 2015, segundo informe divulgado nesta sexta (1º) pelo governo de Barack Obama.

Os números são de ataques desse tipo no Iêmen, no Paquistão e na África e não incluem "áreas de hostilidade ativa" —Afeganistão, Iraque e Síria.

O amplo uso de drones pelo governo Obama em sua campanha contra o terrorismo e a imprecisão nos dados sobre mortes civis têm sido alvo de críticas frequentes de organizações de direitos humanos, que tem números bem mais altos de baixas que os oficiais.

O relatório, o primeiro do governo com uma estimativa de civis mortos por drones, informa que fora das zonas de guerra foram efetuados 473 ataques com esse tipo de aeronave em seis anos, que mataram entre 2.372 e 2.581 combatentes inimigos.

Junto com a divulgação dos dados, a Casa Branca anunciou uma ordem executiva do presidente Obama com diretrizes para aumentar a proteção de civis em áreas de conflito.
"Essas medidas incluem treinamento e implementação de melhores práticas que ajudem a reduzir o risco de baixas civis", disse o governo num comunicado. Também incluem "reconhecer a responsabilidade do governo dos EUA em baixas civis e oferecer condolências e indenização" a civis feridos e a famílias de civis mortos.

O informe divulgado pelo escritório do diretor de Inteligência Nacional ressalta as dificuldades em verificar os números com precisão, devido aos "ambientes em que esses ataques frequentemente ocorrem", onde os EUA e o governo local não têm controle total da operação em campo.

O aumento da transparência nas operações militares é uma promessa antiga do governo, mas os dados revelados nesta sexta não aplacaram as críticas.

Grupos de direitos humanos consideraram insuficiente a divulgação de números apenas parciais e sem detalhamento sobre quem foi morto e por quê.

"O público tem o direito de saber quem o governo está matando, e se o governo não sabe, o público tem o direito de saber isso", cobrou Jameel Jaffer, da União Americana de Liberdades Civis.

De acordo com o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, as áreas de conflito foram excluídas do informe porque nelas os ataques com drones são efetuados pelo Pentágono, que tem seu próprio processo para revelar baixas civis. Ele reconheceu que há "óbvias limitações" à transparência por se tratar de assuntos sensíveis, mas afirmou que a divulgação dos números é um progresso, já que muitas dessas operações nem sequer seriam conhecidas há alguns anos.

"O presidente acredita que nossa estratégia contra o terrorismo é mais eficiente e tem mais credibilidade quando somos os mais transparentes possíveis", disse.

Estimativas do grupo de direitos humanos Reprieve, que monitora os ataques com drones, indicam que eles matam muito mais gente que seus alvos, e com frequência precisam ser repetidos várias vezes. Até o fim de 2014, tentativas de matar 41 pessoas haviam resultado nas mortes de 1.147 pessoas, segundo o grupo.

A divulgação dos dados na véspera do feriado do Dia da Independência, na segunda (4), foi vista pela imprensa americana como uma tática do governo para diluir a visibilidade de um tema dos mais controvertidos. Os números estão bem abaixo das estimativas do Escritório de Jornalismo Investigativo, baseado em Londres, que também monitora o assunto. Seu cálculo é que os drones americanos mataram entre 200 e mil civis desde 2009.


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