Folha de S. Paulo


Coreia do Norte acelera construções de arranha-céus em sua nova 'Manhattan'

Wong Maye-E/Associated Press
In this June 27, 2016, photo, North Korean men and women walk past buildings under construction on
Norte-coreanos passam por construções da rua Ryomyong

Na esperança de mostrar ao mundo que seu país está indo bem, apesar das sanções e da pressão externa sobre seu programa de armas nucleares, o líder norte-coreano Kim Jong Un colocou seus soldados-construtores para trabalhar em mais um grande projeto –uma série de apartamentos e arranha-céus que estão, mais uma vez, mudando o panorama urbano de Pyongyang.

O projeto tem o objetivo de mostrar "o espírito da Coreia do Norte, que se levanta e se mantém a par com o mundo, apesar de todos os tipos de sanções e pressões por parte dos imperialistas norte-americanos e de seus seguidores", e "a verdade de que a Coreia do Norte pode ser próspera à sua própria maneira e de que nada é impossível de ser feito", de acordo com afirmações que a mídia estatal atribuiu a Kim e que teriam sido ditas quando ele ordenou o início da construção, em março.

Sob bandeiras vermelhas gigantes pedindo "velocidade de Mallima" –uma referência a um cavalo alado mítico que poderia viajar enormes distâncias a uma velocidade sobrenatural–, seus soldados-construtores estão agora instalando as estruturas de cada novo andar a um ritmo exorbitante de supostamente 14 horas ao dia, para que tudo esteja pronto até o final do ano.

O projeto é realizado em um momento em que a Coreia do Norte está mobilizada na sua segunda "campanha de velocidade" este ano. Trata-se da sequência da recente conclusão da "Rua do Futuro", um conjunto de apartamentos em arranha-céus, prédios de escritórios e parques à beira de rios, dedicados aos cientistas da nação.

Em algo como uma piscadela desafiante a toda a crítica internacional em relação ao programa de armas nucleares do país, essa região inteira tem motivos nucleares. Seu arranha-céu central tem a forma da ilustração clássica de um átomo quando visto de cima, uma escultura metálica de um átomo está instalada na entrada de sua principal avenida, e átomos de néon brilham nas laterais de dois dos seus edifícios mais altos durante a noite.

O falecido pai de Kim, Kim Jong Rl, também tinha debilidade por grandes edifícios.

Um deles, o Ryugyong hotel, em forma de pirâmide e com 105 andares, ficou atolado em vários problemas e, décadas depois do início da construção, ainda não entrou em funcionamento. Mas outro projeto, uma impressionante zona de apartamentos em arranha-céus perto da icônica Praça Kim Il Sung, tornou-se uma das vistas mais impressionantes de Pyongyang, embora não esteja claro qual é a qualidade de vida oferecida pelos apartamentos, já que raramente se permite que estrangeiros visitem o lugar, e nunca podem fazê-lo sem aviso prévio.

Devido a essa aparência moderna, a restaurantes da moda e a shoppings de luxo que vendem produtos de marca, a região tem o apelido não oficial de "Pequeno Dubai" entre a pequena comunidade estrangeira que mora aqui. Outros a chamam de "Pyonghattan" (a Manhattan de Pyongyang). Foi concluída em 2012, após a morte de Kim Jong Il.

A nova Pyonghattan de Pyongyang, oficialmente chamada de "rua Ryomyong", terá o edifício de apartamentos mais alto do país, de 70 andares, ao lado de um prédio de 50 andares e de um punhado de outros menores, na faixa de 30 a 40 andares.

Segundo se afirma, irá oferecer mais de 3.000 apartamentos –todos com ar condicionado– e terá berçário, jardim de infância, lavanderia, correios e outras instalações públicas e serviços para seus residentes. As orientações de Kim são de que formem uma "rua verde", com sistemas de iluminação e calefação que utilizam painéis solares e energia geotérmica. Os edifícios também terão estufas hidropônicas na cobertura e cômodos que aproveitam ao máximo a luz solar.

Ao lado do objetivo declarado de serem mais modernos, há uma razão prática para tais projetos –os blecautes são um problema de longa data na Coreia do Norte.

Pyongyang tem uma fonte de energia mais confiável do que qualquer outra cidade, mas os painéis solares nas varandas dos apartamentos se tornaram uma visão comum na capital e em outros lugares ao longo dos últimos anos. E enquanto os apartamentos nos novos edifícios altos são muitas vezes concedidos como recompensa pelo trabalho duro ou pela lealdade, as vistas panorâmicas oferecidas pelas coberturas são, sem dúvida, menos atraentes quando não se pode confiar que os elevadores sempre funcionem corretamente.

O impulso nas construções acontece em um momento em que a Coreia do Norte está mobilizada em um período de 200 dias destinados a aumentar a produção e dinamizar a economia, em uma demonstração de devoção a seus líderes. Tais impulsos de velocidade, que também eram comuns nos países comunistas durante a Guerra Fria, são observados com frequência no país.

Um impulso de 70 dias aconteceu no período de preparação para o congresso do partido governista em maio.

Tradução DENISE MOTA


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