Folha de S. Paulo


Brexit gera racha político tanto entre conservadores como entre trabalhistas

UK Parliament/REUTERS
A still image from video shows Britain's Prime Minister David Cameron speaking to the House of Commons about the recent EU referendum in central London, Britain June 27, 2016. REUTERS/UK Parliament
Primeiro-ministro britânico David Cameron fala sobre o Brexit no Parlamento nesta segunda-feira (27)

O processo de saída do Reino Unido da União Europeia ainda não tem data para começar, mas já deflagrou disputas internas nos dois principais partidos britânicos e deve acelerar a escolha dos novos líderes trabalhistas e conservadores.

Nesta terça-feira (28), o primeiro-ministro, David Cameron, vai a Bruxelas, sede do bloco europeu, comunicar o resultado do plebiscito. Para ele, o Reino Unido não deve começar o processo de retirada da UE imediatamente.

A chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou compreender que os britânicos precisam de "uma certa quantidade de tempo para analisar as coisas", mas que nenhum dos lados ganha se as negociações para a saída do Reino Unido demorar demais.

Alemanha, França e Itália concordaram em não ter conversas "formais ou informais" sobre Brexit, nome dado para a retirada britânica do bloco europeu, até que o processo seja iniciado oficialmente.

Segundo Cameron, somente o Reino Unido pode definir quando a saída vai acontecer, e ainda não há data marcada.

O primeiro-ministro também disse que o Reino Unido não vai virar as costas para a Europa. Sugeriu, inclusive, que o país poderia continuar fazendo parte do mercado único, uma das prerrogativas do bloco europeu que permite pessoas, bens, serviços e capitais circularem livremente.

"Caberá ao novo primeiro-ministro negociar o melhor arranjo possível para manter o Reino Unido no mercado único. Mas será uma decisão para o novo governo", afirmou, durante uma sessão especial no Parlamento.

Na semana passada, ao anunciar que renunciaria ao cargo, Cameron previa para outubro a escolha do novo líder que conduzirá o Brexit.

Nesta segunda, o premiê admitiu aceitar eleições antecipadas, que podem acontecer em dez semanas, conforme sugestão de um comitê dos conservadores.

'GOLPE'
Além de ter motivado o anúncio da renúncia de Cameron e uma provável antecipação da eleição no Partido Conservador para o início de setembro, o resultado do plebiscito também abriu uma guerra no principal partido de oposição, o Trabalhista, cujos deputados tentam destituir o líder Jeremy Corbyn.

As declarações de Cameron nesta segunda foram feitas enquanto respondia a perguntas de deputados no Parlamento, onde também aproveitou para provocar seu principal opositor, o líder da oposição Corbyn. "Achei que eu estava tendo um dia difícil hoje", provocou Cameron.

Nesta terça, os trabalhistas no Parlamento votam uma moção pela saída de Corbyn.

Em dois dias, ele perdeu praticamente todo o seu grupo de deputados aliados, que renunciaram aos cargos no governo paralelo afirmando que o líder não tem mais credibilidade para conduzir o partido ou contribuir para a saída do bloco - ele fez campanha pela permanência na UE.

Para resistir e reagir, Corbyn se segura no apoio vindo das bases trabalhistas que, nesta segunda, lotaram o gramado em frente ao parlamento, em Westminster.

Um grupo de aproximadamente mil pessoas protestava pela permanência do líder trabalhista, que terminou a noite fazendo um discurso improvisado para os manifestantes, em sua maioria ligada a sindicatos.

Os manifestantes classificavam de "golpe" o movimento contra o trabalhista dentro do Parlamento.

"Expulse os Tories [conservadores], vermelhos e azuis. Pare o golpe anti-Corbyn", era o grito que ecoava em coro no início da noite de segunda, em Westminster.

A moção pela saída do atual líder trabalhista será apreciada pelos trabalhistas na terça-feira, por meio de voto secreto.

Cameron destacou ainda nesta segunda-feira que não deve haver uma tentativa do Parlamento britânico de bloquear a saída do Reino Unido da UE.

Reino Unido vota sobre o Brexit - Veja como foi a votação

União Europeia e Reino Unido


Endereço da página:

Links no texto: