As pesquisas do Reino Unido, mais uma vez, falharam ao prever que os britânicos optariam por ficar na União Europeia.
No ano passado, por exemplo, elas não conseguiram captar que o Partido Conservador conquistaria maioria absoluta no Parlamento Britânico. Questionou-se, na ocasião, a qualidade e a representatividade da amostra ouvida por telefone e pela internet.
Dessa vez, contudo, a principal justificativa foi a dificuldade de se medir com precisão a taxa de comparecimento.
No Reino Unido, o voto não é obrigatório e o eleitor precisa se registrar com antecedência e informar se quer comparecer à seção eleitoral ou se quer votar pelo correio —neste caso a cédula é encaminhada à residência da pessoa, que precisa devolvê-la até a manhã do dia da votação.
O plebiscito realizado na quinta-feira (23) registrou recorde de comparecimento —72%— e de número de inscritos, com 46,5 milhões de eleitores registrados.
Como não houve pesquisa de boca-de-urna, justificam especialistas, não foi possível mensurar com exatidão as preferências dos que decidiram votar de última hora.
"Nós não escondemos o fato de que a pesquisa definitiva da YouGov calculou mal o resultado por quatro pontos. Isso parece em grande parte devido à taxa de comparecimento —algo que nós sempre dissemos seria crucial para o resultado de uma corrida tão equilibrada", informou o instituto, que previu placar exatamente oposto ao final.
Com 52% contra 48% dos votos válidos, o Brexit venceu com o equivalente a 17,4 milhões de votos.
O professor Richard Whitman, que leciona política e relações internacionais na universidade de Kent, na Inglaterra, já havia alertado que essa seria uma prova de fogo para as pesquisas.
Para ele, será necessário reavaliar a metodologia aplicada para medir intenções de voto caso os institutos do Reino Unido não queiram perder por completo a confiança pública.
Mesmo os que optaram por fazer "pesquisa das pesquisas", copilando as principais estimativas e eliminando os resultados mais extremos, não conseguiram acertar com precisão o resultado desse plebiscito histórico no Reino Unido.
De qualquer forma, a maioria das pesquisas conseguiram medir que em meados de junho o Brexit ganhava força. Alguns dos levantamentos chegaram a colocá-lo liderando as intenções de voto.
Os favoráveis a permanecer na EU, contudo, pareciam ter recuperado votos depois que a deputada britânica Jo Cox, 41, foi assassinada por um ultranacionalista inglês.
Ainda assim, apesar de os indicativos de que o "fica" levaria vantagem, havia sinais de que o Reino Unido estava dividido e a disputa seria bastante acirrada.
"Compreender os mecanismos de precisão de vitória do "sair" [do bloco europeu] vai demorar algum tempo. O que está claro é que houve um erro de avaliação dos mercados financeiros, dos mercados de apostas e dos meios de comunicação, apesar das evidências continuada de pesquisadores como a do YouGov que a corrida estava acirrada e o Brexit era uma possibilidade real", observou o instituto YouGov.