Folha de S. Paulo


Merkel diz que Brexit é 'divisor de águas' e faz apelo por união da Europa

Markus Schreiber/Associated Press
German Chancellor Angela Merkel speaks during a statement about the referendum in Britain at the chancellery in Berlin, Friday, June 24, 2016. Britain voted to leave the European Union after a bitterly divisive referendum campaign, according to tallies of official results Friday. (AP Photo/Markus Schreiber7 ORG XMIT: MSC108
Chanceler alemã Angela Merkel fala durante entrevista coletiva sobre "Brexit" nesta sexta-feira (24)

A chanceler alemã Angela Merkel definiu como "lamentável" e um "divisor de águas" para a integração das nações europeias a votação em que os britânicos optaram pela saída do Reino Unido da União Europeia (UE).

"Precisamos reconhecer a decisão da maioria dos britânicos com grande pesar hoje", afirmou durante entrevista coletiva nesta sexta-feira (24).

Merkel também disse a repórteres que convidou o presidente francês François Hollande, o primeiro-ministro italiano Matteo Renzi e o presidente do Conselho Europeu Donald Tusk para uma reunião em Berlim nesta segunda-feira (27) para discutir opções de garantia da união na Europa após o plebiscito.

Segundo a chanceler, a Alemanha tem um interesse particular e uma responsabilidade pelo sucesso da integração dos países europeus.

Merkel ainda afirmou que a UE deverá ser forte o suficiente para encontrar as repostas certas para a saída do Reino Unido. Ela disse ser importante que todos os outros 27 países membros da UE analisem a situação juntos de forma calma e sóbria e não se apressem para tomar decisões.

HOLLANDE

Em uma declaração televisada nesta sexta-feira, o presidente francês François Hollande disse que o Brexit é "um duro teste" para a UE e que deverá tomar iniciativas para colocar o bloco econômico de volta nos trilhos.

Stephane Mahe/Reuters
French President Francois Hollande makes a declaration following Britain's referendum results to leave the European Union, at the Elysee Palace in Paris, France, June 24, 2016. REUTERS/Stephane Mahe ORG XMIT: MAHE812
Presidente francês François Hollande em declaração após plebiscito sobre a saída do Reino Unido da UE

Hollande defendeu que a UE se foque em temas prioritários, como segurança e defesa, proteção de fronteiras e criação de empregos, assim como o reforço da zona do euro

"Para seguir em frente, a Europa não pode mais agir como antes", afirmou, defendendo mudanças nas ações do bloco. Hollande também declarou decisão de viajar a Berlim na segunda-feira para o encontro com Merkel e o primeiro-ministro italiano.

BREXIT

A campanha do plebiscito foi influenciada nos últimos dias pelo assassinato da deputada trabalhista Jo Cox, pró-Europa, por um ultranacionalista, dia 16. Até então, a saída levava ligeira vantagem na margem de erro.

Pesquisa do instituto YouGov divulgada logo após o fim da votação apontava 52% para a permanência e 48% para a saída da UE —sinal de quão acirrada foi a disputa. Esta não seria, porém, a primeira vez que os institutos britânicos errariam resultados. O mesmo ocorreu nas eleições gerais de 2015.

Reino Unido vota sobre o Brexit - Veja como foi a votação

Foram 15 horas de votação sob chuva, com alagamentos e interrupções no transporte.

O placar expõe um país dividido e, segundo analistas, despertará um sentimento anti-UE continente afora.

EFEITO DOMINÓ

Há risco de efeito dominó em outros países do bloco, que podem imitar a consulta popular para obter vantagem em negociações, e de impulso a movimentos separatistas como o escocês e o catalão.

O professor de política Tim Bale, da Universidade Queen Mary, de Londres, pondera que o "efeito dominó" tem mais força se o Reino Unido deixar efetivamente o bloco.

Ainda que não signifique o início de um potencial desmonte, há muitos europeus interessados em, ao menos, debater benefícios e potenciais problemas caso seus países decidam deixar a UE.

Pesquisa feita pelo instituto Ipsos Mori com 6.000 pessoas em nove países europeus em março e abril deste ano indicou que 45% dos entrevistados apoiam a ideia de se fazer uma consulta popular em seu próprio país, e um terço disse que votaria para sair do bloco.

A maioria dos franceses e italianos ouvidos concorda com um plebiscito. O instituto ouviu ainda cidadãos de Suécia, Espanha, Bélgica, Hungria, Polônia, Alemanha e do próprio Reino Unido.

Além do ceticismo quanto ao bloco, o plebiscito no Reino Unido despertou outro sentimento entre os europeus: o de não ser bem-vindo entre parte dos britânicos.

Cerca de 3 milhões de cidadãos de países-membros do bloco vivem no Reino Unido, e aproximadamente 2 milhões de britânicos estão nos outros 27 países da UE.

O livre trânsito de cidadãos da UE, uma das prerrogativas do bloco, transformou-se em um dos pontos de maior apelo durante a campanha do plebiscito. Favoráveis ao Brexit defendem que os imigrantes sobrecarregam o sistema de saúde, baixam os salários e "roubam" empregos.

Por isso, analistas avaliam que haverá muitas feridas a curar no Reino Unido após a votação. A disputa rachou o Partido Conservador e expôs fragilidades do Trabalhista. O cisma persistirá.

União Europeia e Reino Unido


Endereço da página:

Links no texto: