Folha de S. Paulo


Brasil tem democracia "madura", diz indicado para ser embaixador dos EUA

"Corrupção, desafios economicos, impeachment, Olimpíadas, zika. Se alguém escrevesse, diriam que era inverossímil demais, só pode ser ficção".

Assim o senador americano Tim Kaine abriu sua sabatina com o diplomata Peter McKinley, apontado pelo presidente Barack Obama como o próximo embaixador dos EUA no Brasil.

State Department Photo/Public Domain
O diplomata Peter McKinley, ao lado do secretário de Estado John Kerry, em reunião no Afeganistão
O diplomata Peter McKinley, ao lado do secretário de Estado John Kerry, em reunião no Afeganistão

As mazelas atuais do país dominaram as questões a McKinley, que se prepara para trocar o posto de embaixador no Afeganistão pela chefia da representação em Brasília.

Durante a sessão no comitê de Relações Exteriores do Senado, Kaine quis saber como o presidente interino Michel Temer iria lidar com as suspeitas de corrupção que rondam ele próprio e integrantes de seu governo.

McKinley respondeu que é "extraordinária" a transparência com que os escândalos no governo têm sido investigados no Brasil.

"Estado de direito, processo institucional forte, sociedade civil, mídia extraordinariamente ativa, polícia, investigadores federais, um sistema judicial, que pôde fazer seu trabalho praticamente sem obstáculos", enumerou o diplomata, preferindo destacar o que vê como o lado positivo da crise. "O processo enfatiza a força da democracia brasileira".

O senador Ben Cardin questionou se a turbulência que o Brasil atravessa afetará as relações com os EUA.

"O Brasil é uma democracia madura", disse McKinley, ressaltando que a cooperação estabelecida no ano passado durante o encontro da presidente afastada Dilma Rousseff com Obama em Washington continua com o governo interino, em uma série de temas que vão da economia ao combate ao terrorismo.

"Estamos confiantes em que a maturidade da democracia brasileira ajudará a desenvolver firmes relações."

Filho de americanos, McKinley, 62, nasceu na Venezuela e cresceu entre Brasil, México, Espanha e EUA, por conta das mudanças do pai, homem de negócios.

Morou dois anos em São Paulo quando era adolescente e depois manteve o vínculo com o país, quando estudou no departamento de Estudos Brasileiros na Universidade Oxford (Reino Unido).

Fluente em português com um leve sotaque de Moçambique, onde serviu, ele contou a jornalistas brasileiros depois da sabatina que é um torcedor de futebol "fanático" e lembrou da Copa de 70, quando viu a "maior equipe de todos os tempos".

Sua foto de família preferida, disse, é uma em que todos estão vestidos com a camisa da seleção, em frente à Embaixada do Brasil em Washington.

Voltou várias vezes ao Brasil para visitar, a última na Copa do Mundo de 2014.

Considerou "uma surpresa" a derrota do Brasil para a Alemanha. Mas disse que a organização foi "fantástica, fora de série", e que essa impressão consolidou a visão otimista que apresentou na sabatina do Senado.


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