Folha de S. Paulo


Analistas veem prejuízo se Reino Unido decidir deixar a União Europeia

Chamados a escolher nesta quinta (23) se querem deixar a União Europeia, os britânicos estão diante de uma aposta alta, com potencial de render um futuro promissor ante o risco de significativo prejuízo, avaliam analistas.

Pesquisas indicam um país dividido entre saída e permanência. Se aprovada, a ruptura irá a voto no Parlamento, que pode derrubá-la.

Kevin Coombs/Reuters
Partidários da saída e da permanência britânica na União Europeia fazem campanha em Londres
Partidários da saída e da permanência britânica na União Europeia fazem campanha em Londres

No caso do "Brexit (a saída), o consenso por ora é que o impacto econômico será maior para o Reino Unido —a segunda economia do bloco, que tem na UE a fonte de metade de seus investimentos externos— do que para os demais 27 membros, mas sem movimentos bruscos.

"Qualquer efeito positivo parece limitado, e os piores cenários estão longe de serem catastróficos. De qualquer forma, a maior parte das projeções indica um custo significativo a longo prazo", diz relatório da Oxford Economics.

Plebiscito - O que pensam os?britânicos sobre a permanência na UE, em %

A consultoria prevê encolhimento do PIB entre -0,1% e -3,9% em 2017.

No cenário mais otimista, a estimativa é de um aumento de investimentos de até £2,4 bilhões (R$ 11,9 bilhões) até 2030; no mais pessimista, prevê-se redução de £21,1 bilhões (R$ 105 bilhões).

Já um estudo do Centro de Performance Econômica da London School of Economics (LSE) prevê contração do PIB entre 1,30% e 2,6% e dos investimentos estrangeiros de até 22% a curto e médio prazos.

Para os cenários positivo e negativo, os economistas levaram em conta, principalmente, custos do comércio —incluindo barreiras tarifárias, subsídios e benefícios fiscais— de 35 setores, incluindo intermediários, entre os 40 maiores países do mundo.

OS DOIS LADOS DO 'BREXIT'

CUSTOS COMERCIAIS

Segundo o professor Thomas Sampson, da LSE, o primeiro efeito da saída da UE seria o aumento dos custos comerciais com o bloco.

"É improvável que o Reino Unido seja mais bem sucedido nas negociações comerciais porque é um mercado bem menor que a UE, com menos poder de barganha. Os EUA já anunciaram que vão priorizar as negociações com o bloco europeu", observou.

REINO UNIDO E UE - O peso do bloco na economia britânica

Cotação da libra, em relação ao dólar -

O estudo da LSE, do qual Sampson fez parte, aponta que quando os britânicos entraram para a UE, em 1973, cerca de 30% das exportações do país tinham o bloco como destino. A partir de 2008, mais da metade dos produtos produzidos em terras britânicas segue para os países do bloco, o que perfaz cerca de 15% do PIB do Reino Unido.

O professor, contudo, pondera que, embora o impacto da saída possa elevar o desemprego no primeiro momento, não há indício de alterações significativas nas taxas a longo prazo. O mesmo não se pode dizer dos salários e do padrão de vida, que podem cair, segundo o estudo.

Os defensores do Brexit alegam que o impacto econômico pode ser amenizado com o montante que o Reino Unido repassa à UE e não volta como investimento.

Cada um dos 28 membros contribui anualmente e, em contrapartida, tem direito a repasses. Na prática, países ricos ajudam aqueles em dificuldade. No caso dos britânicos, em 2015, foram £13 bilhões à UE que, por sua vez, gastou £4,5 bilhões no país.

Os que querem sair afirmam ainda que o país tem potencial de ser o "novo Canadá", nas palavras do ex-prefeito de Londres, Boris Johnson, defensor do Brexit.

Considerado modelo de sucesso, o Canadá assinou um acordo de livre comércio com a UE no qual não precisa aceitar a livre circulação nem pagar taxa de membro. Mas deve tarifas sobre algumas exportações e não tem o tratamento à indústria de serviços financeiros dado a membros.

O governo britânico, pró-permanência, também alega que precisará subir impostos e instalar um plano de cortes se o Brexit vencer.

BRASIL

Se os britânicos saírem da UE, dizem analistas, devem buscar acordos bilaterais, e o Brasil está no radar como potencial parceiro. Contudo, advertem, a tendência é que prevaleçam negociações entre blocos, dada a escala maior que esse tipo de acordo oferece.


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