Folha de S. Paulo


Trump e Clinton afinam tom de campanha eleitoral à Casa Branca

Donald Trump: controle-se. Hillary Clinton: relaxa.

Eis o resumo de uma ópera eleitoral polarizada por protagonistas de personalidades avessas —e com potencial de provocar estrago.

A demissão do braço-direito do republicano, um "mini-Trump" acusado de alimentar os piores instintos do patrão, e o investimento numa imagem mais espontânea da democrata sinalizam que a mensagem foi em parte captada.

Ralph Freso/AFP
O virtual candidato republicano Donald Trump faz discurso em comício em Phoenix, no Arizona
O virtual candidato republicano Donald Trump faz discurso em comício em Phoenix, no Arizona

Sob pressão, o magnata aplicou seu bordão do reality "O Aprendiz", "você está demitido", em Corey Lewandowski, que coordenava sua campanha desde o início das prévias republicanas.

Signatário do lema "deixe Trump ser Trump", ele teve apoio do empresário quando, em março, foi indiciado sob suspeita de agarrar uma repórter pelo braço.

Tombou, porém, nesta segunda (20). Sua queda teve o dedo de Ivanka Trump, a filha do chefe, que engrossou o descontentamento do partido, disseram fontes à CNN.

Pesaram contra Lewandowski uma relação hostil com a imprensa, posições extremistas contra imigrantes latinos e muçulmanos e a diáspora de doadores —reflexo do que Trump encarna no dia a dia. Ele também defendia uma campanha mais enxuta, com 70 funcionários (Hillary tem dez vezes mais).

Com sua saída, ganha força um estrategista experiente em Washington, Paul Manafort, que há dois meses tenta arrancar a fórceps uma versão mais disciplinada do candidato. Michael Caputo, aliado de Manafort, tuitou no mesmo dia um verso de "O Mágico de Oz": "Ding-dong, a bruxa está morta!".

DEMOCRATAS

Hillary tem uma campanha mais profissional, espalhada pelos 50 Estados americanos, mais dinheiro em caixa e currículo invejável —foi senadora e secretária de Estado.

Mas algo lhe falta, a própria admitiu em 2015: "Não sou uma política natural, caso vocês não tenham notado. Não como meu marido ou o presidente [Barack] Obama".

Não ajudou ter travado, por meses, batalha interna com o carismático Bernie Sanders, e agora lidar com Trump, que se gaba de "falar coisas que as pessoas de fato entendem".

Em seu talk-show, Bill Maher já disse que votar nela "é tão fácil quanto comer galinha no avião, quando o peixe está em falta", o que reflete uma ideia popular, de que ela é insossa e pouco autêntica. Dois em três americanos a veem como desonesta, segundo sondagem da Gallup.

Obama já sugeriu que há um componente de machismo no tratamento da mídia para a democrata Hillary: ninguém o incomodava se mostrasse rigidez similar.

Ela se mostra disposta a suavizar sua persona. Passou a citar a mãe em discursos sentimentais, apareceu ao lado da cantora Katy Perry e na série "Broad City" e, no Instagram, postou vídeo em que diz ser "difícil se concentrar" com dois rapazes sem camisa num comício.

Para Stephen Farnsworth, doutor da Universidade Georgetown, "com anos de experiência acumulada" Hillary tem tudo a ganhar nos debates que travar com Trump, político neófito. "O desafio será conseguir se explicar sem se perder em detalhes."


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