Folha de S. Paulo


'Morte a traidores, liberdade ao Reino Unido', diz suspeito de matar deputada

Em sua primeira aparição pública desde sua prisão, Thomas Mair, o homem acusado de matar a deputada britânica Jo Cox na última quinta (16) respondeu com apenas uma frase às perguntas feitas durante audiência num tribunal de Londres neste sábado (18): "Morte a traidores, liberdade ao Reino Unido".

Ao ter seu nome questionado pela segunda vez pelo escrivão, Mair foi enfático: "Meu nome é morte a traidores, liberdade ao Reino Unido".

PRU/AFP
A video grab taken from footage broadcast by the UK parliamentary recording unit (PRU) on June 16, 2016 Labour party member of parliament Jo Cox speaks during a session in the House of Commons in central London on November 17, 2015. British lawmaker Jo Cox has been shot and injured in her constituency in northern England, media reported on June 16. Jo Cox, 41, a mother of two, was left bleeding on the pavement after the incident in Birstall in Yorkshire, the Press Association cited an eyewitness as saying. / AFP PHOTO / PRU / PRU / RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT
A deputada britânica Jo Cox discursa durante sessão do Parlamento em novembro de 2015

O assassinato da deputada ocorreu uma semana antes do plebiscito do próximo dia 23, que vai decidir sobre a permanência dos britânicos na União Europeia.

Cox, 41, que defendia a continuidade do Reino Unido no bloco europeu, foi baleada e esfaqueada na rua em West Yorkshire, seu distrito eleitoral, no norte da Inglaterra.

Testemunhas afirmam que, antes do ataque, o autor teria gritado "Reino Unido primeiro", frase que é lema de partido homônimo, uma das mais radicais organizações de extrema-direita britânicas.

Vestindo agasalho de moletom cinza e com dois seguranças ao seu lado, Mair, 52, não fez mais comentários na audiência de 15 minutos.

Na sexta (17), ele foi indiciado por homicídio doloso, lesão corporal e porte ilegal de arma. Ele terá outra audiência na segunda-feira (20).

Segundo a magistrada Emma Arbuthnot, diante das respostas de Mair no tribunal, um relatório psiquiátrico deverá ser preparado.

O assassinato de Cox, que tinha 41 anos e dois filhos pequenos, chocou o país, gerando manifestações de líderes de todo o mundo e levantando questões sobre o tom da campanha antes do plebiscito. Ambos os lados suspenderam temporariamente as campanhas após o crime.

O suspeito será mantido sob custódia na prisão de Belmarsh, em Londres, até a próxima audiência na corte, marcada para esta segunda-feira (20).

Nesta sexta-feira (17), a chefe interina da polícia do condado, Dee Collins, disse que o ataque parece ser "isolado, mas com Jo como alvo determinado". Além da polícia, agentes antiterrorismo participam das investigações do homicídio.

COMOÇÃO

A morte de Jo Cox provocou comoção política no Reino Unido. Devido ao crime, foi interrompida a campanha do plebiscito sobre a permanência na UE a uma semana da votação, na quinta (23).

O Parlamento, cujas sessões foram suspensas devido à consulta popular, será reaberto na segunda (20) para um tributo à deputada.

Craig Brough/Reuters
Britain's Prime Minister David Cameron (C) leads Labour Party leader Jeremy Corbyn (R), and Labour MP Hilary Benn as they pay tribute near the scene where Labour Member of Parliament Jo Cox was killed in Birstall near Leeds, in Britain June 17, 2016. REUTERS/Craig Brough ORG XMIT: LON808
David Cameron e líder trabalhista Jeremy Corbyn visitam local do assassinato de deputada

Na sexta, o primeiro-ministro britânico, o conservador David Cameron, visitou o local do crime junto com o líder trabalhista, Jeremy Corbyn, opositor a seu governo.

Em discurso, Cameron disse que a morte de Cox é motivada por intolerância, divisão e ódio. "Devemos afastar isso da nossa política, da nossa vida pública e da nossa comunidade."

E destacou a personalidade da deputada, elogiada pelos seus colegas por seu trabalho filantrópico. "O Parlamento perdeu uma de suas políticas mais brilhantes e apaixonadas, alguém que sintetizou o fato de que política é sobre servir aos outros."


Endereço da página: