Folha de S. Paulo


Britânicos avaliam perdas caso decidam deixar a União Europeia

O deputado britânico Graham Stuart decidiu fazer uma consulta informal atípica. Ao comandar uma audiência pública sobre impacto na América Latina caso os britânicos decidam sair da União Europeia, ele contabilizou as intenções de votos da plateia antes e depois do debate numa centenária sala do Parlamento na noite de quarta (15).

Tão incerto quanto o resultado do plebiscito, marcado para este dia 23, são os impactos da saída do Reino Unido do bloco europeu para os países latino-americanos.

Ben Stansall/AFP
Cartaz de campanha pela saída do Reino Unido da UE é colocado em estrada de Charing, na Inglaterra
Cartaz de campanha pela saída do Reino Unido da UE é colocado em estrada de Charing, na Inglaterra

O único ponto de consenso é que o impacto econômico será maior para os britânicos do que para os demais 27 membros do bloco europeu ou o resto do mundo.

Os que estavam no prédio de estilo gótico do século 19 optaram, na consulta informal do deputado, por ficar na UE —ao contrário das ruas do Reino Unido, onde as pesquisas mais recentes indicam vantagem crescente para a opção pela saída do bloco.

Na noite de quarta, durante o debate no Parlamento, a plateia ouviu um deputado britânico conservador e membro do Parlamento Europeu prometer que imigrantes latino-americanos terão mais oportunidades com a saída britânica, o "Brexit".

"Queremos manter as relações amigáveis. Estamos deixando o bloco, não a Europa.

O Brexit trata também de reequilibrar a imigração. "Vocês [latino-americanos] aqui estão pagando um preço alto porque outros estão entrando livremente. Nós podemos ajudá-los", afirmou David Campbell Bannerman, que representa o Leste da Inglaterra no Parlamento Europeu.

Apesar das promessas de Bannerman, economistas e consultores projetam um cenário menos otimista para as relações externas do Reino Unido, em especial as comerciais, em caso de saída.

Também presente no debate, Laurence Blair, analista para a América Latina da consultoria Economist Inteligence Unit, avaliou que dificilmente os britânicos vão conseguir negociar, sem respaldo da UE, bons acordos comerciais. Nem mesmo na América Latina, onde há mercados a serem explorados.

"Os países estão formando blocos, esse é o futuro", afirmou o analista. Para Blair, diante dessa nova tendência de negociação entre blocos, Mercosul e Aliança do Pacífico (Chile, Colômbia, México, Peru e Costa Rica) tendem a priorizar a UE devido à escala do mercado e deixar o Reino Unido em segundo plano.

Fora do bloco, ainda que negociem acordos, os britânicos terão menos poder de barganha, dizem analistas.

Defensores do Brexit admitem um impacto negativo na economia num primeiro momento. Dizem contudo que vale pagar o doloroso preço desse encolhimento.

A maioria das previsões feitas neste ano indica também que o PIB (Produto Interno Bruto) deve cair, e o país tende a enfrentar num cenário otimista cinco anos de recessão caso saia da UE. A libra também deve ser enfraquecida, a medir pela variação negativa a cada pesquisa que indica vantagem para o Brexit.

O tamanho do recuo, contudo, não é consenso dada a incerteza em relação à habilidade do governo de manter investimentos estrangeiros, negociar bilateralmente melhores tarifas comerciais e manter a balança comercial.


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