Folha de S. Paulo


Atirador de Orlando teve 3 confrontos com policiais, diz chefe da polícia

Mais de 24 horas depois de um massacre de frequentadores de uma casa noturna gay em Orlando, o chefe da polícia local deu novos detalhes nesta segunda-feira (13) sobre confrontos entre policiais e o atirador, e outras autoridades informaram que só uma das 49 vítimas fatais ainda não foi identificada.

Dezenas de corpos foram removidos da casa noturna Pulse, do domingo para a segunda. Em uma entrevista coletiva na manhã desta segunda, John Mina, chefe da polícia de Orlando, disse que haviam acontecido três confrontos entre policiais e o atirador, identificado como Omar Mateen e morto pela polícia na casa noturna na madrugada de domingo.

CONTROLE DE ARMAS NOS EUA - Maior controle, em %

CONTROLE DE ARMAS NOS EUA - Direito ao porte, em %

O primeiro aconteceu quando um policial de folga que estava trabalhando como segurança na Pulse respondeu a disparos por volta das 2h, disse Mina.

Outros policiais acorreram urgentemente ao local, ele informou, e entraram na casa noturna, onde travaram uma batalha a tiros contra Mateen, forçando-o a se refugiar em um banheiro, no qual policiais afirmaram acreditar que ele tivesse feito quatro ou cinco reféns. Havia de 15 a 20 pessoas abrigadas em outro banheiro.

"Naquele momento, pudemos salvar e resgatar dezenas e dezenas de pessoas, tirando-os da casa", disse Mina.

Uma equipe tática foi convocada e tomou posição em um banheiro do outro lado do corredor, diante daquele em que Mateen estava entocado.

Negociadores começaram a dialogar com Mateen, a quem Mina descreveu como "calmo e frio".

TELEFONEMA

Mateen fez declarações que levaram policiais a pensar que ele estava a ponto de começar a matar mais gente, disse o chefe, e o atirador fez um telefonema ao número de emergência da polícia.

"Ele não estava pedindo muita coisa", disse Mina. "Éramos nós que estávamos falando mais."

"Nossos negociadores estavam conversando com ele", disse Mina. "E não houve disparos naquele momento, mas houve menções a coletes-bomba e explosivos. Houve menção à adesão dele ao Estado Islâmico."

Mina disse que a menção de Mateen a explosivos levou a polícia a decidir iniciar a operação de resgate, e a tentar invadir o banheiro.

Mas um explosivo posicionado à parede não permitiu penetração completa, e por isso os policiais usaram um veículo blindado para fazer uma perfuração a cerca de 60 centímetros de altura, permitindo a fuga dos reféns.

Mateen também saiu pela brecha, disse Mina, e foi morto em uma troca de tiros com os policiais.

Quando questionado, durante a entrevista coletiva, se tinha existido a possibilidade de vítimas serem atingidas pelo fogo cruzado, Mina respondeu que "em meu entendimento, isso é parte da investigação. Mas sempre afirmarei que quando o pessoal de nossa equipe tática, cerca de oito ou nove policiais, abriu fogo, o que havia por trás do atirador era uma parede de concreto. E eles foram alvo de disparos, o que torna tudo parte da investigação".

Em hospitais e pontos de coleta próximos, parentes e amigos dos frequentadores da casa noturna que continuavam desaparecidos começavam a perder a esperança de que seus entes queridos tivessem sobrevivido ao ataque. E aqueles que já haviam sido informados da morte de pessoas queridas começavam a planejar seus funerais.

"Não consigo imaginar ser o pai de uma das vítimas, ou saber que uma pessoa querida pode estar entre os mortos, à espera de identificação", disse o prefeito de Orlando, Buddy Dyer.

As autoridades recalcularam o número de vítimas fatais, afirmando que o total de 50 mortos incluía o atirador Omar Mateen.

A Orlando Health, rede de hospitais na área, disse que restavam 43 vítimas hospitalizadas, entre as quais seis que passariam por cirurgias nesta segunda-feira.

CENA DO CRIME

Nesta segunda-feira, os investigadores continuavam a vasculhar a cena do crime em busca de indícios para tentar compreender a motivação do atacante.

Trinta especialistas em depoimento de vítimas e reconstrução de cenas de crime estavam trabalhando, processando o máximo possível de indícios, disseram representantes do FBI (polícia federal americana).

O pai de Mateen, Seddique Mir Mateen, postou um vídeo em sua página do Facebook, falando em dari —um dos idiomas do Afeganistão. "Não sabia que ele tinha tanta raiva em seu coração, e não conheço o motivo."

"Meu filho, Omar Mateen, era um ótimo menino, um menino educado, que tinha mulher e filho, e respeitava muito os seus pais", ele disse.

Na entrevista coletiva desta segunda, A. Lee Bentley, procurador da Justiça federal dos Estados Unidos no centro da Flórida, informou que investigadores haviam recolhido grande volume de provas eletrônicas e materiais, e estavam tentando determinar se Mateen agiu sozinho.

"Se há alguém mais envolvido nesse crime", disse Bentley, "será processado".

Mateen, 29, nascido em Nova York, transformou o que seria uma noite de comemoração ao som de salsa e merengue na superlotada Pulse em uma cena de pânico e carnificina inimaginável, com o piso encharcado de sangue e mortos e feridos empilhados uns sobre os outros.

Pessoas aterrorizadas corriam pelas ruas escuras do bairro em que fica o clube, algumas carregando feridos em busca de segurança, e veículos policiais foram colocados em uso como ambulâncias improvisadas, para levar feridos ao hospital o mais rápido possível.

Joel Figueroa e seus amigos estavam "dançando perto da área de hip-hop quando ouvi tiros, bam bam bam", ele disse, acrescentando: "Todos começaram a gritar e correr para a saída".

Foi o pior ataque terrorista nos Estados Unidos em território norte-americano desde o 11 de setembro de 2001, e o mais mortífero contra um alvo gay na história do país, ainda que as autoridades tenham afirmado que não estava claro se algumas das vítimas não teriam sido atingidas por disparos dos policiais.

O governador da Flórida, Rick Scott, disse nesta segunda-feira que havia solicitado ao presidente Barack Obama que declarasse um estado federal de emergência na Flórida.

"O ataque terrorista de ontem foi um ataque ao nosso Estado e a todo o país", afirmou Scott em comunicado. "Esta manhã, solicitei ao presidente Obama que declarasse estado de emergência a fim de que os plenos recursos do governo federal estejam disponíveis para os atingidos por esse horrendo massacre."

Em carta a Obama, Scott solicitou duas formas de assistência federal: "Provisão de medidas de saúde e segurança" e "administração, controle e redução de ameaças imediatas à saúde e segurança pública".

Uma declaração de emergência por Obama ofereceria US$ 5 milhões em verbas federais à Flórida, inicialmente.

"Diante do ódio e da violência, amaremos uns aos outros", disse Obama em discurso na Casa Branca. "Não cederemos ao medo ou nos voltaremos uns contra os outros. Em lugar disso, nos manteremos unidos como cidadãos norte-americanos para proteger nosso povo e defender nossa nação, e agir contra aqueles que nos ameaçam."

Tradução de PAULO MIGLIACCI


Endereço da página:

Links no texto: