Folha de S. Paulo


Polícia venezuelana reprime novo protesto da oposição em Caracas

Policiais venezuelanos reprimiram nesta terça-feira (7) uma marcha opositora que pretendia chegar à sede do CNE (Conselho Nacional Eleitoral), no centro de Caracas, para exigir a ativação de um referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro.

O trâmite do referendo já começou com a coleta de assinaturas de eleitores. Mas a oposição acusa o CNE, chavista, de atrasar o processo para que eventual consulta só ocorra em 2017, quando uma revogação de Maduro levaria à posse do vice, sem necessidade de novas eleições.

A marcha, a terceira em menos de um mês, foi liderada por Henrique Capriles, governador do Estado de Miranda (que abrange parte de Caracas) e ex-candidato à Presidência. Aos gritos de "temos fome" e "este governo vai cair", manifestantes foram alvejados por gás lacrimogêneo quando tentaram furar o cordão policial. Policiais em motocicletas foram cercados e agredidos por opositores mais exaltados.

Capriles conduziu a marcha a outra via, mas o percurso também acabou bloqueado, e o protesto foi suspenso. "Continuaremos manifestando até que o governo entenda que não pode trancar a via democrática", disse Capriles à Folha, enquanto esfregava os olhos irritados pelo gás.

No início de maio, a oposição entregou 1,8 milhão de assinaturas ao CNE para iniciar o referendo, número que supera em muito o mínimo exigido de 200 mil assinaturas (1% do número de eleitores registrados no país).

Contrariando a lei, que dá cinco dias para a auditoria das firmas, o CNE disse que encerraria verificações no dia 2 de junho, mas até agora o órgão não oficializou sua posição sobre o tema.

Horas após a marcha, a oposição disse ter recebido garantias de que o CNE anunciará nesta quarta (8) a validação de 1,3 milhão de assinaturas. Em tese, o número é suficiente para a ativação da fase seguinte, pela qual a oposição terá de recolher assinaturas de mais 20% dos eleitores.

Mas críticos dizem que, na falta de marco jurídico claro, é preciso esperar o CNE para o cronograma das próximas etapas.

Nicolás Maduro foi eleito em 2013 para um mandato que termina em janeiro de 2019. Caso haja referendo, o "sim" precisaria de quantidade de eleitores maior que os 7,5 milhões de votos obtidos por Maduro em 2013.

A crise venezuelana será discutida nesta quarta (8), em Brasília, entre o chanceler José Serra e seu colega paraguaio, Eladio Loizaga, que busca apoio para a posição linha-dura contra Maduro.


Endereço da página:

Links no texto: