Folha de S. Paulo


Human Rights Watch cobra ação do Brasil sobre crise na Venezuela

O Brasil precisa assumir um papel construtivo na resolução da crise na Venezuela. Esse é o alerta de Kenneth Roth, diretor executivo da ONG de direitos humanos Human Rights Watch (HRW). "O novo governo no Brasil tem de reconhecer que precisa adotar uma abordagem mais construtiva na Venezuela", disse à Folha Roth, em visita a São Paulo.

Segundo ele, o governo Temer representa uma oportunidade para o Brasil ter uma abordagem mais equilibrada e menos ideológica na região. "Mas não tenho certeza de que isso vai se concretizar, porque este governo é bastante sensível em relação a suas origens. Não está claro se vai agir contra a demagogia que está vindo de Caracas."

Boris Vergara/Xinhua
Manifestantes protestam contra demora em convocar referendo que revoga mandato de Nicolás Maduro
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Na segunda-feira (6), em entrevista no programa "Roda Viva", da TV Cultura, o chanceler José Serra disse que o Brasil não vai assumir um papel de liderança na negociação da crise venezuelana, a não ser que seja requisitado para isso.

"Vemos com bons olhos as iniciativas" que estão em curso, disse Serra, referindo-se às ações de Luis Almagro —secretário geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), que invocou a carta democrática contra a Venezuela.

Era também uma menção à Argentina, por meio da Unasul, que articulou uma missão de mediação liderada pelo ex-premiê espanhol José Luis Rodríguez Zapatero e pelos ex-presidentes Martín Torrijos, do Panamá, e Leonel Fernández, da República Dominicana.

Roth aponta que o Brasil precisa pressionar o governo Maduro para que "os direitos da Assembleia Nacional sejam garantidos, o Judiciário seja independente, os presos políticos sejam libertados e a oposição possa falar livremente na mídia ou nas ruas."

Segundo Roth, Almagro usou a carta democrática para alertar para a gravidade da crise na Venezuela e pressionar "os governos mais poderosos da América Latina a fazer alguma coisa, a intervir na situação".

Indagado sobre o processo de impeachment no Brasil, o diretor-executivo da HRW afirmou: "Há um processo constitucional sendo supervisionado e acompanhado por um sistema judiciário independente; podem-se questionar as razões de algumas das pessoas que incentivaram o impeachment porque queriam apenas deter a operação Lava Jato, mas há supervisão do STF e não vemos razões para questionar."

REFUGIADOS

Em relação à crise dos refugiados que tentam entrar na Europa, o ativista afirma que países como o Brasil também deveriam assumir uma maior responsabilidade.

"O Canadá recebeu 25 mil refugiados sírios, e os canadenses reclamaram que não era suficiente. Aumentaram o número de acolhidos para 40 mil. Ah, se houvesse mais 'Canadás' no mundo."


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