Folha de S. Paulo


Governo brasileiro oferece remédios à Venezuela, após pedido da oposição

O governo do presidente interino Michel Temer (PMDB) ofereceu nesta segunda-feira (6) enviar remédios à Venezuela para ajudar o país vizinho a enfrentar o colapso do sistema de saúde decorrente da escassez de medicamentos e insumos.

A oferta, que atende a um pedido da oposição venezuelana e, por isso, tem poucas chances de ser aceita pelo governo chavista, foi divulgada em nota do Itamaraty.

Ronaldo Schemidt - 30,mai.2016/AFP
Prateleiras vazias em farmácia de Caracas; governo Temer oferece medicamentos à Venezuela
Prateleiras vazias em farmácia de Caracas; governo Temer oferece medicamentos à Venezuela

"Como país vizinho, amigo e solidário da nação venezuelana, o Brasil está pronto (...) a colaborar para o atendimento das carências mais críticas que afetam a população do país vizinho" diz a nota, que, em prática inusual na diplomacia, é assinada pelo chanceler José Serra.

"Estamos dispostos a doar medicamentos básicos produzidos por nossos laboratórios públicos, entregando-os a organizações internacionais humanitárias que possam promover sua distribuição", afirma o comunicado, que fala em "sofrimento do povo venezuelano".

O Itamaraty disse não ter números de quantos medicamentos podem ser ofertados. Segundo a pasta, o governo brasileiro "vai tentar conciliar a necessidade da Venezuela com a disponibilidade" de remédios básicos feitos por laboratórios públicos nacionais —caso de Bio-Manguinhos, da Fiocruz.

O pedido de envio de medicamentos havia sido formulado pelo deputado venezuelano Luis Florido, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Assembleia Nacional (dominada desde janeiro pela oposição), em visita ao Brasil em fevereiro, ainda sob governo de Dilma Rousseff.

Florido relatou à Folha que havia tratado do tema em audiência com o então chanceler Mauro Vieira e com Serra, à época ainda senador pelo PSDB. O pedido foi reiterado em recente conversa com o embaixador do Brasil em Caracas, Ruy Pereira. "Venezuelanos estão morrendo por falta de remédios. Ficamos muito agradecidos com o gesto do Brasil, que considero um país irmão", afirmou Florido.

O governo do presidente Nicolás Maduro, acusado de ser o principal responsável pela grave crise econômica e social na Venezuela, vem rejeitando ofertas de remédios e alimentos, uma vez que aceitar ajuda externa equivaleria a admitir a falência do modelo chavista de controle da economia.

Nesse contexto, a oferta do Brasil é uma iniciativa com forte teor político, que poderá aprofundar o distanciamento bilateral deflagrado com a decisão de Maduro de chamar de "golpe de Estado" o afastamento de Dilma.

Em resposta, Serra havia acusado a Venezuela e outros países latino-americano críticos do impeachment de propagarem "falsidades sobre o processo político no Brasil".

O embaixador venezuelano no Brasil não vai a Brasília há semanas —oficialmente, por razões de saúde.


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