Folha de S. Paulo


Peru vota neste domingo para eleger presidente conservador

Os peruanos votam neste domingo (5) tendo de escolher entre dois candidatos muito parecidos no aspecto econômico –adeptos da ideia de que o país deve seguir com sua política de livre mercado. Em todo o resto, porém, os concorrentes são bem diferentes.

Segundo números divulgados na última sexta-feira (3), Keiko Fujimori, de ascendência japonesa e filha do ex-ditador Alberto Fujimori (1990-2000), tem 50,3% das intenções de voto, seguida muito de perto por Pedro Pablo Kuczynski (o PPK), com 49,7% (votos válidos, pesquisa GfK).

Cris Bouroncle/AFP
Candidatos Keiko Fujimori e Pedro Pablo Kuczynski se cumprimentam antes de debate em maio
Candidatos Keiko Fujimori e Pedro Pablo Kuczynski se cumprimentam antes de debate em maio

No sábado (4), porém, sondagens confidenciais de institutos de pesquisa realizadas neste dia apontavam uma tendência para uma virada do jogo. Numa delas, PPK saía à frente de Keiko por apenas dois pontos. De todo modo, prevalece o empate técnico.

Em entrevista a jornalistas estrangeiros, na sexta (3), os institutos atribuíram a subida de PPK nos últimos dias a dois fatores: a repercussão da marcha antifujimorista ocorrida na terça (31) e o apoio a ele declarado, um dia antes, pela candidata de esquerda Verónika Mendoza, terceira colocada no primeiro turno.

"Como a economia não está em primeiro plano, porque vai bem (previsão de crescimento de 4% para 2016) e a desaceleração mundial ainda não chegou a afetar o bolso das pessoas, o que vai definir essa eleição é o apreço pessoal pelos candidatos, a preocupação ou não dos eleitores com o Estado de Direito e a violência, principal preocupação da população segundo as pesquisas", disse à Folha o analista político Alberto Vergara.

Depois de um primeiro turno confuso, que teve duas impugnações polêmicas, Keiko e PPK deixaram suas diferenças mais claras na segunda rodada de votação.

MUDANÇA DE PERFIL

Aos 41 anos, Keiko se apresenta agora diferente do que na eleição de 2011, quando perdeu por pouco para Ollanta Humala.

Mais expressiva, usando looks mais modernos quando está nas cidades e roupas típicas ao visitar comunidades nos Andes, pareceu mais preparada para se mostrar publicamente.

Bem assessorada, tinha provocações prontas para soltar nos debates. A principal delas foi a exposição da contradição de PPK, que apoiou sua candidatura em 2011.

Nos comícios, Keiko apresentou soluções diretas e firmes, propondo legalizar a mineração ilegal, prometendo mandar o Exército às ruas para garantir a segurança, impor toque de recolher em locais perigosos e aumentar os gastos do Estado em saúde.

Raio-x Peru

VELHA CONHECIDA

Keiko é uma velha conhecida dos peruanos.

Passou a ser a primeira-dama do país quando tinha apenas 19 anos, após o divórcio do pai. Quando a ditadura caiu e Fujimori migrou para o exílio, Keiko foi aos EUA para estudar. Recebeu seu MBA na Universidade Columbia em 2006 e se casou com um norte-americano, com quem tem duas filhas.

Logo, voltou ao Peru e passou a investir na carreira política. Elegeu-se congressista por Lima e então começou a montar sua candidatura presidencial.

Derrotada, passou a fazer campanha para conseguir um indulto para o pai, hoje preso, condenado por crimes de corrupção e abuso de direitos humanos.

Conservadora, Keiko estudou no Colégio de la Recoleta, instituição católica frequentada pela elite de Lima. Ela se diz contra o aborto, salvo em caso de risco de vida à mãe (única condição aceita na lei peruana) e é contra o matrimônio homossexual.

SOTAQUE ESTRANGEIRO

Kuczynski também vem de família de imigrantes. Filho de mãe suíço-francesa e pai judeu polonês, nasceu em Iquitos, mas logo saiu para estudar fora. Cursou economia e filosofia em Oxford e em Princeton.

Ao voltar ao Peru, trabalhou no governo de Fernando Belaúnde (1963-68), mas, quando este foi deposto pelo golpe militar de Velasco Alvarado, retornou aos Estados Unidos, onde trabalhou no Banco Mundial.

Durante a administração de Alejandro Toledo (2001-2006), foi primeiro-ministro e ministro da Economia.

Em sua campanha, PPK chamou a atenção para o fato de, por ter integrado o governo que veio logo após a ditadura fujimorista, ter sido peça essencial no desmonte do aparato ditatorial.

Nas últimas semanas, PPK deixou o estilo passivo para sair ao ataque, afirmando que uma vitória de Keiko seria um retrocesso democrático. Passou a repetir cada vez mais em discursos a palavra "liberdade" e a se descrever como um "político de centro, não de ultradireita como dizem".

De fala lenta e sotaque estrangeiro, sabe que a idade (77 anos) é um ponto negativo em seu currículo, por isso vem repetindo que gosta de se exercitar e tem "muito vigor". Casado pela segunda vez, também com uma norte-americana, tem quatro filhos.


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