Folha de S. Paulo


Cinco números que explicam as greves e a luta sindical na França

Jean-Sebastien Evrard/AFP
Workers and union members gather in Saint-Nazaire, western France, to demonstrate against the government's planned labour law reforms on May 26, 2016. France's Socialist government has bypassed parliament and rammed through a labour reform bill that has sparked two months of massive street protests. / AFP PHOTO / JEAN-SEBASTIEN EVRARD ORG XMIT: 121
Trabalhadores em ato contra a reforma trabalhista em Saint-Nazaire, noroeste da França

A França vive um desfile interminável de greves e manifestações contra a reforma trabalhista proposta pelo presidente François Hollande. Números mostram por que é tão difícil chegar a um consenso.

3.511.100

Este é o número de desempregados na França, o que representa uma taxa de 10,3% —ligeiramente abaixo do recorde do mandato do atual presidente. O índice é, em todo caso, muito alto para François Hollande falar sobre uma "queda significativa" do desemprego. Isso é exatamente o que ele disse para cidadãos franceses esperarem dele: caso contrário, prometeu não disputar a reeleição.

Especialmente preocupante é a taxa de desemprego entre jovens. Cerca de 24% deles não conseguem encontrar um emprego, significando problemas para o futuro da França e, tradicionalmente, se traduzindo em tensões nas ruas de grandes cidades.

O movimento social francês Nuit Debout (algo como "vigília noturna") já conquistou muitos estudantes e outros jovens. Não está exatamente claro o que eles querem, mas envolve uma mudança radical.

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Essa é a porcentagem da força de trabalho francesa que oficialmente é membro de um sindicato. É um número baixo em comparação com o índice de sindicalização na Dinamarca (66,8%) ou na Alemanha (18,1%). Mas o poder dos sindicatos não pode ser subestimado. Uma média de 70% a 80% dos funcionários participa nas eleições para os conselhos de trabalhadores nas empresas.

Dessa forma, mesmo que a maioria não faça parte de um sindicato, eles participam ativamente da escolha de quem vai representá-los. Alguns sindicatos são a favor da reforma do mercado de trabalho que é planejada pelo governo francês. Mas outros não: entre eles, a esquerdista Confederação Geral do Trabalho(CGT), que tradicionalmente tem grande influência sobre os trabalhadores.

A CGT rejeita categoricamente a reforma e quer provar que tem influência suficiente para bloquear todo o projeto. Se isso significa realizar uma longa greve durante a Eurocopa, então que assim seja.

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Como no artigo 2 da reforma trabalhista planejada, também chamada de "lei Khomri", em referência à atual ministra do Trabalho, Myriam el-Khomri. Ela aspira a um toque de liberalismo na França socialista e enfrentou vários problemas por isso. O que aconteceria se o artigo entrasse em vigor? É complicado.

Mas a essência é dar às empresas o direito de negociar seus próprios acordos com sindicatos e funcionários, além de poder anular coberturas e acordos setoriais. Até agora, tem ocorrido o oposto.

Alguns sindicatos têm receio de que essa possibilidade possa minar seus poderes e, de fato, isso levaria a uma redução do custo de horas extras em algumas empresas, fazendo com que os encargos de 35 horas de trabalho semanais fiquem um pouco mais leves para alguns patrões. Mas nada é garantido, e o artigo 2 tem limites muito claros. Ainda assim, é a maior pedra no sapato de alguns sindicatos.

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É a classificação da França no ranking de competitividade internacional em relação à flexibilidade do seu mercado de trabalho —e isso é muito ruim. Em todas as categorias juntas, a França ocupa a 22ª colocação na competitividade internacional por causa da avaliação positiva de sua infraestrutura ferroviária e da disponibilidade de internet de alta velocidade.

Mas a segunda maior economia da União Europeia precisa melhorar em todas as categorias no momento em que arrasta a Europa para baixo, acumulando dívidas e não realizando progressos.

O maior obstáculo para a França ser novamente um motor econômico —e a maioria dos especialistas concorda neste ponto— é a rigidez do mercado de trabalho. O governo francês sabe disso, claro, e essa é uma das razões para que o gabinete de Hollande esteja tão desesperado para promover a reforma, com ou sem o apoio do Parlamento.

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De acordo com as últimas pesquisas, 14% dos franceses pretendem votar em Hollande caso ele tente a reeleição —esse número não é ruim, é péssimo. Até agora, o presidente não tem nada para mostrar neste mandato: nenhuma grande conquista, apenas uma variedade de coisas inacabadas.

Ele está claramente determinado a finalmente realizar mudanças que possam fazer, de forma positiva, a diferença. Se ele recuar desta vez (novamente), não terá chance de mostrar qualquer tipo de legado. Ele já enfraqueceu a reforma trabalhista original, que pretendia realizar uma reforma muito mais ambiciosa.

Agora, ele estabeleceu a fronteira, e alguns sindicatos recusam a mudança da legislação. É difícil ver como a França sairá desse imbróglio de forma suficientemente rápida para que a Eurocopa transcorra de forma pacífica e festiva.


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