Folha de S. Paulo


Boom peruano no turismo e na gastronomia embala presidenciáveis

Faltavam minutos para a marcha antifujimorista na noite de terça (31), e as ruas do centro de Lima estavam cercadas por policiais. Ainda assim, entre transeuntes que corriam para chegar em casa e ativistas que se concentravam para o protesto, avistava-se vários grupos de turistas —sobretudo europeus e norte-americanos— em fila.

À sua frente, um guia de sotaque carregado explicava a história da Plaza de Armas, a Catedral e outros cartões-postais da capital peruana.

Luis Camacho - 4.abr.2016/Xinhua
Gastón Acurio mostra como fazer ceviche em feira da Organização Internacional do Turismo em Lima
Gastón Acurio mostra como fazer ceviche em feira da Organização Internacional do Turismo em Lima

A fatia do turismo e da gastronomia na economia do Peru vem crescendo 20% ao ano há quase uma década. Quando o fim do ciclo das commodities impôs um limite ao crescimento do país baseado apenas na exportação de produtos agrícolas e minerais à China, governo e iniciativa privada passaram a olhar para o setor com mais atenção.

Os dois candidatos no segundo turno da eleição presidencial deste domingo (5) têm isso entre as prioridades.

Parecidos em suas propostas macroeconômicas —tanto Keiko Fujimori como Pedro Pablo Kuczynski são a favor de uma política de livre-mercado, eles diferem sobre como desenvolver o setor.

Enquanto Keiko prefere regionalizar as propostas, vendendo mais destinos no interior, PPK (como é chamado) quer investir na estrutura existente em Lima, com shoppings e hotéis de luxo, que atraem turistas e convenções.

Antes apenas um ponto de passagem para quem se dirigia às ruínas arqueológicas dos Andes, Lima se transformou num polo gastronômico e de compras.

Em alguns restaurantes da capital, como o Central (quarto na lista dos 50 melhores restaurantes do mundo organizada pela revista britânica "Restaurant"), só é possível reservar mesa com semanas de antecipação, enquanto grandes chefs como Gastón Acurio lançam franquias destinadas a diferentes bolsos.

A próxima reunião da Aliança do Pacífico (Chile, Peru, México e Colômbia), em debaterá também estratégias de ação e propaganda conjunta para a área.

Os brasileiros compõem, hoje, o quinto grupo dos que mais visitam o Peru a passeio.

ECONOMIA EM FORMA

Enquanto outros países da região, como Brasil, Venezuela e Argentina, enfrentam crises econômicas, o Peru ainda segue imune aos efeitos da desaceleração mundial.

"A economia não está em primeiro plano nessa campanha eleitoral porque não há crise e ambos os candidatos pensam o mesmo sobre o assunto. Em terceiro lugar, a discussão sobre a ameaça ao Estado de Direito e sobre a violência tomaram todo o debate", diz à Folha o cientista político Alberto Vergara.

Ainda com uma desaceleração do PIB —cresceu em média 5,6% dos últimos dez anos, e para 2017 é esperado um avanço entre 3,5 e 4%, o país segue atraente para investidores estrangeiros.

ECONOMIA PERUANA - Principais indicadores do país

"Ollanta Humala não fez um mau governo, garantiu que as políticas de livre-mercado prosseguissem e garantissem os investimentos. Mas fez muito pouco para combater a desigualdade, que ainda é muito grande", diz Steven Levitsky, professor da Universidade Harvard (EUA) especialista em Peru.

"A preferência dos mais pobres por Keiko está na recordação de que [o ditador Alberto] Fujimori [1990-2000] olhou mais para eles."

Embora concordem nas linhas gerais da macroeconomia, há algumas diferenças entre os candidatos.

Entre as propostas de Keiko, está legalizar parte da mineração que desobedece leis de proteção ambiental. Seus opositores e ecologistas dizem que a medida é irresponsável, porque significará a contaminação de muitos rios.

Já PPK considera necessária a promoção de reformas nas leis trabalhistas e na estrutura tributária do país.

"Seu principal entrave, caso vença, será fazer aprovar as leis, uma vez que o novo Congresso tem maioria fujimorista. Isso conta negativamente para sua campanha", diz Levitsky. "As pessoas acham que com Keiko haverá mais agilidade na gestão, ainda que isso signifique um risco de mais autoritarismo."


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