Folha de S. Paulo


Após críticas, secretário da Unasul tem 'diálogo cordial' com Serra em Paris

O secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper, revelou em entrevista à AFP ter se encontrado na última segunda-feira (30) com o chanceler brasileiro, José Serra. Antes de Michel Temer assumir, Samper criticou o processo de impeachment de Dilma Rousseff e disse que o processo poderia representar uma ruptura democrática no Brasil.

"Ontem tive a oportunidade de dialogar (...) com o chanceler Serra aqui mesmo em Paris. Foi um diálogo muito cordial e muito sincero sobre os pontos de vista de um lado e do outro", disse o ex-presidente colombiano (1994-1998).

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O secretário-geral da Unasul Ernesto Samper fala sobre o processo de impeachment em Quito no dia 12
O secretário-geral da Unasul Ernesto Samper fala sobre o processo de impeachment em Quito no dia 12

Logo após a votação do impeachment no Senado, Samper disse que o processo expunha o Brasil à aplicação da cláusula democrática da Unasul, que contempla sanções aos países que se afastam da ordem constitucional.

O chanceler respondeu às declarações do colombiano com uma dura nota, na qual afirmava que os argumentos de Samper, "além de errôneos, deixam transparecer juízos de valor infundados e preconceitos contra o Estado brasileiro e seus poderes constituídos".

Na entrevista à AFP, Samper disse que suas reservas não impedem o trabalho conjunto com o governo interino de Temer. "Esperamos que respeitem este direito de defesa [de Dilma] e, evidentemente, enquanto isso seguimos trabalhando com o governo interino", declarou.

"Mantemos nossa preocupação, que não tem outro objetivo senão garantir que o desenlace deste episódio seja um desenlace democrático e ajustado ao Estado de direito brasileiro", disse Samper, afirmando que expressou isso a Serra. "Ele compartilha a necessidade de que este julgamento contra a presidente seja realizado dentro do rígido respeito à institucionalidade brasileira."

O Senado brasileiro abriu no dia 12 de maio um julgamento de impeachment contra Dilma por crime de responsabilidade. A presidente é acusada de editar decretos de créditos suplementares sem aval do Congresso e de usar verba de bancos federais em programas do Tesouro, as chamadas "pedaladas fiscais". Sua defesa entende que não há elementos para o afastamento.

Dilma foi afastada de seu cargo e substituída pelo vice-presidente Michel Temer, à espera de que o Senado determine em até 180 dias se é culpada das acusações.


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