Folha de S. Paulo


Noivos incluem abrigo contra tornado em listas de casamento nos EUA

Esqueça opções como torradeira, liquidificador ou panela elétrica. Kayla e Ricky Smith sobreviveram a um tornado em Joplin, Missouri, e pediram um presente de casamento mais prático: um abrigo para protegê-los contra a próxima grande tempestade.

Eles estão na vanguarda de uma tendência bizarra em Tornado Alley (como é conhecida a região dos EUA onde os tornados são mais frequentes): noivos que usam listas de presentes de casamento para pedir contribuições em dinheiro para a construção de "safe rooms" (quartos de segurança) ou abrigos pré-fabricados fortes, geralmente instalados em casas ou garagens.

Vários tornados devastaram o meio-oeste e sul dos Estados Unidos nos últimos anos. Um mês antes do tornado de 22 de maio de 2011 em Joplin, que deixou 161 mortos e 7.000 casas destruídas, centenas de pessoas morreram em tornados letais no sul do país. Em 2013, um tornado matou 24 pessoas em Moore, Oklahoma.

A devastação chamou a atenção das pessoas para a necessidade de um abrigo de segurança em casas que não têm porão. As vendas de quartos de segurança subiram muito, beneficiadas em parte pela disponibilidade de verbas da Agência Federal de Gestão de Emergências e por programas de descontos que ajudam a pagar por esses abrigos em alguns Estados do país.

Os quartos de segurança pré-fabricados contam com paredes e portas de aço espesso, capazes de resistir a ventos de até 400 km/h. Não têm janelas, iluminação ou eletricidade. Normalmente pequenos, são construídos em uma garagem ou closet. O custo médio fica entre US$ 3.000 e US$ 7.000, dependendo do tamanho. Alguns são enterrados no quintal, como os abrigos contra tornados usados no passado.

Kayla e Ricky Smith ainda não eram casados quando o tornado passou por Joplin. Kayla estava com seus pais em um carro que foi varrido da rua para um quintal. Ricky se protegeu debaixo da escada de seu prédio. Quando saiu de lá, o prédio tinha desaparecido. Os dois saíram relativamente ilesos.

Quando a data de seu casamento estava chegando perto, em 2013, eles pediram, como presente de casamento, contribuições em dinheiro para a construção de um abrigo. Acabaram construindo um "safe room" de US$ 5.200 na garagem de sua casa. "Era nossa maior necessidade –algo que garantisse nossa segurança", falou Kayla Smith, 29.

CONDIÇÃO

Às vezes são os familiares de casais recém-casados que compram os abrigos para garantir a segurança dos jovens, disse John Hunter, coproprietário da Atlas Safe Rooms, em Joplin. "Sei de um sujeito que pediu a um pai sua filha em casamento, e o pai disse: 'Não enquanto você não tiver um quarto de segurança'".

Artigos de cama e mesa e decorações para o lar ainda são os itens mais comuns em listas de casamento, mas Kristen Maxwell Cooper, editora-executiva do site de casamentos The Knot, disse que essas listas hoje incluem cada vez mais itens inesperados.

Aludindo aos "safe rooms", ela comentou: "Não me surpreende que os casais estejam querendo isso. Estamos vendo pessoas que se casam um pouco mais tarde na vida e muitas vezes já estavam morando juntas antes. Elas já têm o que seria tradicional pedir em uma lista de casamento."

Mesmo com os avanços nos serviços de previsão meteorológica, que muitas vezes avisam sobre a chegada de tornados com bastante antecedência, algumas pessoas simplesmente não têm para onde ir.

Antes de se casarem, em outubro de 2013, Blake e Amanda Dills colocaram em sua lista de casamento na The Knot um pedido de contribuições para um quarto de segurança. Blake já tinha uma casa em Oklahoma City, mas ela não tinha subsolo.

"Essa era a única coisa que preocupava minha família um pouco", comentou Amanda Dills, 35. "No final, o abrigo foi praticamente pago pelas contribuições."

O quarto de segurança deles custou mais de US$ 3.000. Tem espaço para até oito pessoas, mas Amanda disse que o formato dele "é como uma cabine telefônica deitada de lado".

Não houve novo tornado em Joplin, mas a cidade já sofreu várias tempestades fortes. Kayla Smith disse que o quarto de segurança dela e de seu marido é tão amplo que eles já conseguiram acomodar lá dentro seus vizinhos, os filhos dos vizinhos e os pets das duas famílias.

Blake e Amanda Dill ainda não precisaram se abrigar no seu quarto de segurança. "Meu marido diz que esse é o único presente de casamento que a gente realmente torce para que nunca precise usar", falou Amanda.


Tradução de CLARA ALLAIN


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