Folha de S. Paulo


Centenas de famílias são usadas como 'escudo humano' em Fallujah, diz ONU

O Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados) acusou nesta terça-feira (31) militantes do Estado Islâmico (EI) de estarem usando centenas de famílias como "escudos humanos" para conter a ofensiva do governo iraquiano sobre Fallujah.

Cerca de 3.700 pessoas fugiram da cidade controlada pelo EI só na última semana, quando o Exército iraquiano começou a avançar sobre a facção terrorista na tentativa de retomar Fallujah.

"O Acnur tem recebido relatos de mortes entre civis no centro de Fallujah devido ao bombardeio pesado, incluindo sete membros de uma família no dia 28 de maio [sábado]", disse o porta-voz do Acnur William Spindler. "Também há informações de centenas de famílias sendo usadas como escudos humanos pelo EI no centro da cidade."

Os relatos, segundo o Acnur, são de pessoas que conseguiram fugir da cidade. "Já há algum tempo que os militantes têm controlado o movimento [da população], sabemos que os civis são proibidos de deixar a cidade", disse a porta-voz do Acnur Ariane Rummery.

"Também há relatos de pessoas que conseguiram escapar recentemente de que o EI têm obrigado as pessoas a se moverem [com a facção] dentro de Fallujah", afirmou Rummery.

REAÇÃO

Autoridades iraquianas disseram nesta terça (31) que a ofensiva dos militares contra um bairro ao sul da cidade foi contida por membros do EI.

"Nossas forças receberam fogo pesado, elas estão bem instaladas nas trincheiras e nos túneis", afirmou um comandante no Campo Tariq, a base recuada do Exército no sul de Fallujah, localizada 50 quilômetros a oeste de Bagdá.

Os soldados foram parados a cerca de 500 metros do bairro de Al-Shuhada, parte sudeste da área de Fallujah mais ocupada por construções.

Um funcionário do principal hospital de Fallujah disse que a equipe de atendimento recebeu relatos de 32 civis mortos na segunda-feira (30). Fontes médicas relataram que o saldo de mortes da primeira semana da ofensiva iniciada no dia 23 de maio é de cerca de 50 pessoas, entre eles cerca de 30 civis.

Fallujah está sitiada há mais de seis meses. Organizações de assistência estrangeiras não se encontram na localidade, mas estão fornecendo ajuda àqueles que conseguem sair e chegar a campos de refugiados.

A ofensiva mais recente está causando alarme nestas organizações, já que mais de 50 mil civis continuam presos com acesso limitado a água, alimentos e assistência de saúde.

"Uma catástrofe humana está se desenrolando em Fallujah. Famílias inteiras estão presas no fogo cruzado e não têm nenhuma saída segura", disse Jan Egeland, secretário-geral do Conselho de Refugiados Norueguês, uma das entidades que ajudam as famílias que saíram da cidade.

"Em nove dias só soubemos de uma única família que conseguiu escapar de dentro da cidade", afirmou ele em um comunicado nesta terça. "As partes em guerra precisam garantir uma saída segura para os civis agora, antes que seja tarde demais e mais vidas sejam perdidas."

Fallujah é a segunda maior cidade iraquiana sob controle dos militantes, depois de Mosul, "capital" da facção radical, ao norte, onde viviam cerca de 2 milhões de pessoas antes da guerra.


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