Folha de S. Paulo


ONU diz que 700 migrantes morreram na semana passada no Mediterrâneo

Marina Militare/AFP
TOPSHOT - This handout picture released on May 25, 2016 by the Italian Navy (Marina Militare) shows the shipwreck of an overcrowded boat of migrants off the Libyan coast today. At least seven migrants have drowned after the heavily overcrowded boat they were sailing on overturned, the Italian navy said. The navy said 500 people had been pulled to safety and seven bodies recovered, but rescue operations were continuing and the death toll could rise. The navy's Bettica patrol boat spotted
Foto da Guarda Costeira italiana mostra barco virando no mar, em 25 de maio

A semana passada foi a mais movimentada do ano na travessia de migrantes pela rota marítima entre a Líbia e a Itália, com cerca de 14 mil pessoas interceptadas e resgatadas pelas autoridades.

O número de mortos em pelo menos três naufrágios na última semana pode superar 700 pessoas, de acordo com as entidades que lidam com os refugiados na região.

O Unicef (braço da Organização das Nações Unidas para a infância) disse acreditar que uma parte desses mortos seja de adolescentes migrantes desacompanhados.

As chegadas registradas nesta semana na Itália incluem eritreus, sudaneses, nigerianos e outras nacionalidades do oeste africano, informaram entidades na área.

Apesar do crescimento do fluxo da travessia, sob clima ameno e mar calmo, o total de chegadas até esta sexta-feira (27) era de 40,6 mil, cerca de 2% menor que o do mesmo período do ano passado, segundo o governo italiano.

As mortes nos três naufrágios desta última semana podem representar a maior perda de vidas no Mediterrâneo desde abril de 2015, quando um navio afundou com cerca de 800 pessoas a bordo. O total de vítimas da semana passada, no entanto, são apenas uma estimativa com base nos relatos dos que sobreviveram.

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"Nunca saberemos os números exatos", tuitou a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF), depois de estimar 900 mortos na semana. Já o Acnur (agência da ONU para refugiados) disse que mais de 700 migrantes se afogaram.

A Organização Internacional para a Migração estimou que 3,7 mil migrantes morreram em 2015 na travessia do Mediterrâneo para a Europa.

Dados da Acnur mostram uma redução, no início deste ano, no número de chegadas de migrantes na Grécia, onde a situação se tornou trágica com o fechamento das fronteiras de outros países europeus. Um acordo fechado com a Turquia em março, porém, conseguiu conter a escalada de chegadas à Grécia.

Na Itália, no entanto, o ritmo parece ser de aumento.

A rota marítima para a Itália a partir da Líbia era popular até 2009, quando líbios e italianos fecharam um acordo para frear a migração.

Segundo a Frontex (agência europeia de fronteiras), a rota voltou a ser usada em 2011, até a queda de Muammar Gaddafi, no mesmo ano. E, em 2013, a rota voltou a ser organizada pelos traficantes.

A maior parte dos barcos interceptados nesta semana parece ter saído de Sabratha, na Líbia. Os que conseguiram chegar com vida à Europa disseram que os traficantes, na Líbia, bateram e estupraram os migrantes, segundo o MSF, entidade que tem três barcos de resgate na área.

LIBERDADE

O eritreu Habtom Tekle, 27, um dos sobreviventes do naufrágio de quinta-feira (26), descreveu cenas duras de pessoas se agarrando às outras na tentativa de resistir.

Tekle deixou a Eritreia há seis anos, fugindo de um recrutamento obrigatório sem data de término. Passou por diversos países antes de se arriscar na perigosa travessia marítima para a Europa.

"Quero dizer ao mundo que esse caminho é perigoso para nós, porque minha família vai perder sua via nessa travessia", disse. "Por favor, nos ajude a ter liberdade em nosso país. Não quero ficar aqui ou qualquer outro lugar. Quero meu país com liberdade", afirmou o jovem.

Como nos casos desta semana, os migrantes fazem a travessia, com frequência, em embarcações pouco resistentes, superlotadas, com pouco combustível e sem a posse de coletes salva-vidas.

"Passou da hora de a Europa ter coragem de oferecer uma alternativa segura que permita que essas pessoas venham sem colocar vidas em risco", afirmou Tommaso Fabri, dos MSF da Itália.


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