Terminados, ou em fase terminal, os conflitos com tropas americanas no Iraque e Afeganistão, as Forças Armadas dos EUA voltam a pensar nos inimigos potenciais de hoje e do futuro próximo.
A ideia em debate é como criar uma "terceira estratégia" para lidar com os desafios do resto do século 21, nos moldes de duas estratégias bem-sucedidas no passado.
Após mais de uma década lidando com "insurgentes" ou "rebeldes"; depois de tirarem das estantes e reescreveram os manuais da guerra "contra-insurgência", os militares americanos ensaiam a volta a um mundo de guerra "convencional". Ou pior, possivelmente "nuclear".
Vano Shlamov - 14.mai.2016/AFP | ||
Soldado americano participa de exercício militar na Geórgia, em 14 de maio deste ano |
Os inimigos potenciais podem ser tanto a China como a Rússia, a Coreia do Norte ou o Irã, e mesmo grupos guerrilheiros e terroristas bem organizados, como o Hamas. Todos fãs de mísseis e armas de destruição de massa.
O desafio é, curiosamente, repetitivo.
Durante a maior parte da Guerra Fria com a comunista União Soviética, os EUA tinham que adaptar suas Forças Armadas para lidar com um Exército inimigo gigantesco, uma Força Aérea enorme, e uma Marinha que cresceu rapidamente (sem contar que o rival era potência nuclear).
Boa parte do tempo os EUA tiveram que lidar com uma guerra de "contra-insurgência" no Vietnã, nas décadas de 1960 e 1970.
Mas o principal inimigo era a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e seu monstruoso arsenal convencional.
Terminada a Segunda Guerra (1939-1945), os EUA desmobilizaram rapidamente suas Forças Armadas, especialmente o Exército. Em agosto de 1945, o Exército americano tinha oito milhões de homens; o total cairia para menos de um milhão em julho de 1947.
Já a União Soviética manteve grande número de tropas em serviço ativo.
Com o início do confronto político conhecido como Guerra Fria entre o oeste capitalista liderado pelos EUA e o leste comunista liderado pela URSS, ficou claro que a Europa Ocidental poderia ser rapidamente conquistada pelos soviéticos e seus aliados.
ARMAS NUCLEARES
Os EUA precisavam de uma estratégia para "driblar", ou "contrabalançar" o poderio comunista que não envolvesse recrutar milhões de soldados e construir milhares de tanques e aviões, arruinando o país financeiramente.
O presidente americano então, general Dwight Eisenhower (1953-1961), que comandara a invasão da França em 1944 (o chamado Dia D), optou por investir em armas nucleares para driblar a superioridade soviética em armas convencionais. Essa foi a "primeira estratégia do drible", conhecida então como "new look", "novo visual".
Como a Força Aérea era a principal operadora das armas nucleares, em aviões e em mísseis, entre 1954 e 1957 ela teve 47% da verba de Defesa dos EUA. Já o Exército, entre 1954 e 1961, perdeu cerca de 40% dos seus recursos.
Eram armas novas e letais capazes de transportar bombas e ogivas nucleares, como os bombardeiros a jato B-47 e B-52; os mísseis balísticos baseados em terra, como o Titan e o Minuteman; e os submarinos nucleares da classe USS George Washington armados com o míssil Polaris.