Folha de S. Paulo


OEA espera posição do Brasil sobre a Venezuela

Em meio à expectativa de que a OEA (Organização dos Estados Americanos) considere a aplicação de sua cláusula democrática à Venezuela, o que poderia levar à suspensão do país, cresce a cobrança para que o Brasil assuma uma posição mais clara de pressão contra Caracas.

Diante da grave crise política e econômica na Venezuela, é considerada iminente por vários diplomatas e analistas a convocação de uma sessão extraordinária do Conselho Permanente da OEA inspirada na Carta Democrática Inter-Americana, que prevê ações quando a democracia está em risco.

Brendan Smialowski - 20.mai.2016/AFP
Luis Florido, a member of the opposition in the Venezuelan National Assembly, stands with Luis Almagro, Secretary General of the Organisation of American States, at the Organisation of American States on May 20, 2016 in Washington, DC. / AFP PHOTO / Brendan Smialowski
Luis Almagro (dir.), chefe da OEA, recebe o deputado opositor venezuelano Luis Florido

O governo da Venezuela afirma que a aplicação da Carta seria uma violação de sua soberania.

Segundo a Folha apurou, isso poderá ocorrer já na quarta (25), por iniciativa do secretário-geral da OEA, o uruguaio Luis Almagro.

Nos últimos dias, Almagro subiu o tom de suas críticas ao presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e divulgou amplamente os apelos que recebeu para invocar a Carta Democrática.

O caminho até uma eventual aplicação da cláusula democrática, contudo, pode ser prolongado pela dificuldade de alcançar apoio na entidade. As articulações estão em andamento entre os países e devem se intensificar nesta próxima semana, quando haverá reuniões para tentar consolidar uma postura comum entre os que estão alinhados.

Uma das grandes dúvidas é como o Brasil se posicionará sobre a possível invocação da Carta Democrática, agora que a diplomacia do país sofreu uma guinada com o novo chanceler, José Serra.

PAÍS-CHAVE

Para José Miguel Vivanco, diretor-executivo da ONG Human Rights Watch, que monitora direitos humanos, "a chave" para que o processo avance está com o Brasil.

A organização enviou na última semana uma carta a Almagro pedindo a aplicação da Carta no caso da Venezuela, alertando para a "precária situação dos direitos humanos" no país.

"Dependemos do Serra. Até agora havia um vazio de poder na região porque o Brasil estava consumido em sua própria crise", disse Vivanco. "Agora o país tem um chanceler com peso e trajetória, alguém que mostrou em sua vida pública seu compromisso com a democracia e que tem personalidade forte."

Um dos obstáculos para que o Brasil assuma uma posição de liderança na invocação da Carta Democrática é a defesa pública que Almagro fez da presidente Dilma Rousseff e seu questionamento sobre as bases jurídicas do processo de impeachment.

Há preocupação com a possibilidade de a aplicação da cláusula democrática criar um precedente para que ela também seja usada contra o Brasil, segundo uma fonte.

Desde que a Carta foi aprovada, em 2001, Honduras foi o único país suspenso da organização, depois que o presidente Manuel Zelaya foi alvo de destituição sumária.

Em 1962, durante a Guerra Fria, Cuba foi suspensa da entidade sob a acusação de receber ajuda militar da extinta União Soviética. O veto a Cuba foi cancelado em 2009.


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