Folha de S. Paulo


Análise

Probabilidade estatística de avião egípcio ter se acidentado é baixa

Com a ressalva óbvia de que ainda restam muitos fatos a descobrir, a hipótese de ação criminosa surge como uma das mais prováveis para a queda do Airbus A320 da Egyptair.

As estatísticas jogam a favor da indústria: a aeronave voava a 11 mil metros de altitude, em etapa de cruzeiro. Uma análise entre 1959 e 2014 revela que só 13% dos acidentes fatais acontecem nessa fase, apesar de 53% do tempo de um voo ser em cruzeiro.

Trata-se, ainda, de um avião confiável, com apenas 12 acidentes fatais em 28 anos de serviço, o que o coloca entre os cinco mais seguros da indústria. Os dados são de sumário estatístico de acidentes da Boeing.

Editoria de arte/Folhapress
Avião Airbus A320

Ainda assim, um problema técnico pode ter ocorrido. Da altitude em que estava, a aeronave leva entre três e quatro minutos até o chão —é tempo suficiente para que a tripulação reportasse panes, o que, ainda não se sabe a razão, não ocorreu.

Além de informar ao controle de tráfego aéreo e à empresa aérea, por rádio, um piloto consegue declarar emergência apenas digitando o código "7700" no transponder. Os pilotos sabiam disso e eram experientes: o comandante tinha 6.275 horas de voo, 2.101 das quais apenas em A320. O copiloto tinha 2.766 horas de voo.

Por último, entre os dados já conhecidos, não havia indicação de mau tempo na rota. O mau tempo, por si só, não derruba um avião, mas contribui para decisões equivocadas que podem levar a um desastre. Foi o que ocorreu com o voo AF 447 da Air France, em 2009, que caiu sobre o Atlântico.

Avião desaparecido

Posto isso, do ponto de vista técnico, apenas uma falha catastrófica explicaria o acidente. Acontece, por exemplo, quando um elemento fundamental do avião sofre avaria —como no estabilizadores horizontal e vertical, na cauda, que permitem virar e subir e descer.

A ausência do leme faz o avião ficar incontrolável. Foi o que determinou, por exemplo, a queda de um Boeing 747 da JAL no Japão, em 12 de agosto de 1985, no segundo pior desastre da história da aviação —520 pessoas morreram; houve apenas quatro sobreviventes. A causa, descobriu-se depois, foi um reparo mal executado sete anos antes na fuselagem.

EXPLOSÃO

Uma explosão a bordo é compatível com as descrições conhecidas até agora: desaparecimento súbito, sem reporte anterior. Pode acontecer por acidente, com uma carga a bordo —mas a companhia aérea disse que a aeronave não carregava itens perigosos.

Até agora, pois, há uma aeronave com histórico excepcional de confiabilidade que perdeu altitude sobre o Mediterrâneo enquanto voava na fase mais segura de um voo, com bom tempo e conduzida por uma tripulação experiente que não declarou emergência ou reportou problemas.

A considerar as características acima, os dados jogam luz sobre eventual ação criminosa. Diferentemente de uma falha catastrófica, há histórico recente de aviões que caíram por terrorismo: em 31 de outubro de 2015, um Airbus A321 da Metrojet caiu após terroristas colocarem uma bomba a bordo. O avião havia saído do Egito rumo à Rússia. Em 2014, um Boeing 777 da Malaysia foi abatido por um míssil.

Essa é a menos desejada de todas as hipóteses. Uma falha mecânica ou estrutural fará o setor se esforçar para corrigir o erro e evitar que volte a ocorrer. Já ação terrorista, não: totalmente imprevisível, colocará em xeque a indústria —o que faz com que as pessoas tenham medo de voar.

Encontrar a caixa-preta é fundamental para decifrar o que aconteceu.

Cronologia acidente


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