Folha de S. Paulo


Serra fará primeira viagem como chanceler à Argentina

Pedro Ladeira/Folhapress
O novo ministro das Relações Exteriores, José Serra (PSDB), e o ex-ministro da pasta Mauro Vieira (à esq.) na transmissão de cargo (DF)
O novo ministro das Relações Exteriores, José Serra (PSDB), e o ex-ministro da pasta Mauro Vieira (à esq.) na transmissão de cargo (DF)

Em sua primeira viagem como ministro das Relações Exteriores, José Serra visitará a Argentina. A previsão é que chegue em Buenos Aires na noite do próximo domingo (22) e se encontre com sua homóloga, Susana Malcorra, na segunda-feira (23).

Nesta quarta-feira (18), Serra afirmou, em seu primeiro discurso no cargo, que o Brasil priorizará acordos bilaterais e terá a Argentina como parceiro preferencial na América Latina. Segundo o novo chanceler, a Argentina é o país com o qual "passamos a compartilhar referências semelhantes para a reorganização da política e da economia".

Serra disse também que pretende fazer uma política externa "sem partidarismo". A posição do ministro vai ao encontro da de Malcorra, que, assim que foi indicada para o posto, em dezembro do ano passado, falou em "desideologizar" as relações internacionais da Argentina. "Tudo aquilo que sirva aos interesses argentinos será usado de maneira madura", afirmou à época.

Assim que foi aberto o processo de impeachment contra a agora presidente afastada Dilma Rousseff, na semana passada, Malcorra escreveu em sua conta no Twitter que o resultado da votação no Senado consolidava a democracia brasileira.

Após a oposição, ligada à ex-presidente Cristina Kirchner, criticar o impeachment, a chanceler suavizou o discurso: disse estar preocupada com os questionamentos de diferentes forças políticas à legitimidade do afastamento de Dilma, mas manteve a avaliação de que o processo foi legal.

As políticas exteriores de Argentina e Brasil deverão ter uma sintonia maior agora do que havia no período de Dilma. Desde a posse de Mauricio Macri, no último mês de dezembro, uma reaproximação comercial já vinha se dando no governo de Cristina Kirchner, —a Argentina havia adotado barreiras comerciais contra o Brasil, apesar da então semelhança entre os projetos políticos dos dois países.

Macri chegou ao poder e estendeu a bandeira branca para Dilma, tendo visitado a presidente em sua primeira viagem como mandatário eleito.

"A relação entre os países nos últimos cinco meses foi tão boa quanto poderia ser uma relação entre sistemas políticos diferentes", disse à Folha o embaixador da Argentina no Brasil entre 1997 e 2000, Jorge Hugo Herrera Vegas.

A Venezuela era o principal ponto de divergência entre os governos até então. Antes de sua posse, Macri falou em punir a Venezuela no Mercosul por causa dos políticos presos durante o governo de Nicolás Maduro e chegou a dizer que esperava que o Brasil revisse sua posição. Dilma mantinha silêncio sobre o assunto.

Após conversas entre Brasília e Buenos Aires e depois de a oposição venezuelana vencer nas eleições parlamentares, Macri acabou recuando em sua investida.

O encontro de Serra e Malcorra deverá ocorrer sob protestos de brasileiros que moram em Buenos Aires e são contra o governo do presidente interino Michel Temer. Eles articulam com movimentos políticos argentinos de esquerda uma manifestação.


Endereço da página:

Links no texto: