Folha de S. Paulo


Tráfico de migrantes tem corrupção, exploração e rende US$ 6 bi no ano

Mais de 90% dos migrantes que tentam cruzar para a Europa, por terra ou mar, fazem a travessia com ajuda, a maior parte de integrantes de redes criminosas, segundo relatório divulgado nesta terça-feira (17) pela Europol (polícia da União Europeia) e a Interpol (polícia internacional).

Essa rede de tráfico é um negócio multinacional, com suspeitos de mais de cem nacionalidades, e altamente lucrativo, diz o relatório.

A estimativa das polícias é que, em média, cada migrante pague entre US$ 3,2 mil e US$ 6,5 mil para fazer a viagem, o que pode ter movimentado até US$ 6 bilhões no ano de 2015.

Só a Grécia recebeu mais de 1 milhão de migrantes entre o início do ano passado e março deste ano, até que um acordo entre a União Europeia e a Turquia conseguiu reduzir o fluxo de chegadas pelo mar.

A Interpol e a Europol afirmam que os migrantes recorrem às redes de ajuda sobretudo quando não cumprem os requisitos de entrada nos países europeus e quando não têm os documentos necessários (o que desencadeia o uso de documentos falsos).

"A corrupção é outro fator-chave facilitador no tráfico de migrantes. Funcionários públicos que podem ser suscetíveis à corrupção incluem autoridades policiais e de alfândega, que são subornados para deixarem passar veículos pelos pontos de controle, autoridades navais e militares, que recebem pagamentos para cada barco com migrantes que liberam", diz o relatório.

"Dado o quão lucrativo o tráfico de migrantes parece, não é difícil entender por que os criminosos estão dispostos a dividir parte de seus lucros."

EXPLORAÇÃO SEXUAL

As polícias internacionais esperam um aumento, no futuro próximo, de casos de exploração sexual e de trabalho forçado, já que parte dos migrantes acumula dívidas com essas redes.

Além disso, afirma o relatório, é comum que essas redes de tráfico tenham histórico de outros crimes.

Em 2015, segundo identificado pela Europol, mais de 220 traficantes de migrantes tinham um passado criminoso: 22% estavam ligados ao tráfico de drogas, 20% ao tráfico de pessoas, 20% a crimes envolvendo propriedades e 18% à falsificação de documentos.

"Menores desacompanhados podem ser ainda mais vitimizados, já que podem ser explorados sexualmente, forçados a cometerem atividades criminosas ou envolvidos pelos traficantes na busca por mais clientes", diz o documento divulgado nesta terça (17).

Mais de 88 mil crianças e adolescentes desacompanhados pediram asilo na União Europeia em 2015, um número considerado inédito pelas agências que oferecem apoio a esse público.

TERRORISMO

Por fim, a Interpol e a Europol alertam para o risco de terroristas utilizarem esses canais e redes de tráfico de migrantes para voltarem à Europa com a intenção de cometerem atentados, como já foi identificado.

"Nas investigações sobre os ataques em Paris, em 13 de novembro, foi descoberto que um dos agressores havia entrado na União Europeia pela Grécia, como parte de um grande fluxo de refugiados da Síria", afirma o relatório.

As duas polícias informaram que ainda é esperado um aumento no número de migrantes que tentam chegar à Europa, já que apenas na Líbia há cerca de 800 mil pessoas à espera de uma oportunidade de cruzar a fronteira europeia.


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