Folha de S. Paulo


Após El Salvador tirar embaixadora, Itamaraty alerta sobre cooperação

O Itamaraty divulgou, nesta segunda-feira (16), mais uma nota em que rechaça críticas feitas por países latino-americanos a respeito do afastamento da presidente Dilma Rousseff.

A pasta, agora sob comando do ministro José Serra, diz esperar que o governo de El Salvador "reconsidere" as críticas feitas ao processo do impeachment e a decisão de chamar de volta sua embaixadora no Brasil.

A nota do Itamaraty vai além e lembra que o país é um grande "beneficiário da cooperação técnica" brasileira na região.

Marvin Recinos/AFP
Salvadorean President Salvador Sanchez Ceren delivers a speech during Guatemalan President Jimmy Morales' welcoming ceremony at the presidential palace in San Salvador, on April 11, 2016. Morales arrived in Salvador to strengthen bilateral ties between the two countries. / AFP PHOTO / MARVIN RECINOS ORG XMIT: 598
O presidente de El Salvador, Salvador Sánchez Cerén, faz discurso em San Salvador em 11 de abril

No sábado (14), o presidente do país, Salvador Sánchez Cerén, afirmou que não iria reconhecer o governo do presidente interino, Michel Temer, por considerar o afastamento da petista uma manipulação. A Chancelaria de El Salvador classificou o afastamento de Dilma como "golpe de Estado".

"Antes, os golpes na América Latina eram feitos com forças militares, eram golpes militares. O que aconteceu agora foi uma destituição pelo Parlamento, pelo Senado. Desse modo, há uma manipulação política", disse Cerén.

O presidente afirmou, ainda, que chamará para uma consulta a embaixadora do país no Brasil, Diana Marcela Vanegas, proibida por enquanto de ir a eventos de Temer.

ALERTA

Na nota desta segunda (16), o Itamaraty afirma ter tomado conhecimento das manifestações de El Salvador, que, segundo a pasta, "revelam amplo e profundo desconhecimento sobre a Constituição e a legislação brasileiras".

No que soa como um alerta a El Salvador, o ministério lembra que o país é beneficiário da cooperação brasileira. "Causam especial estranheza tantos equívocos, uma vez que El Salvador mantém intensas relações econômicas com o Brasil e é o maior beneficiário de cooperação técnica brasileira em toda a América Central."

"Por tudo isso", finaliza a nota do ministério de Serra, "o governo brasileiro espera que o governo de El Salvador reconsidere sua posição, com base em avaliação objetiva e factual da realidade".

Na sexta (13), o Itamaraty divulgou outras duas notas com teor que destoa da tradicional manifestação protocolar da pasta, marcando uma relevante mudança de tom na diplomacia brasileira.

As duas primeiras notas rechaçam o que a pasta classificou como "falsidades" a respeito do processo do impeachment de Dilma Rousseff propagadas por países como Venezuela, Cuba, Bolívia, Equador e Nicarágua. Parte dos aliados internacionais do PT chamou o afastamento de Dilma de golpe.


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