Folha de S. Paulo


Múltiplos esqueletos no armário rondam Trump e Hillary

Ele se recusa a divulgar o Imposto de Renda, é acusado de enganar ex-alunos de uma universidade com seu nome e empregou por quase 30 anos um mordomo que sugere "arrastar Barack Obama para fora da 'Mesquita Branca' e enforcar aquele traseiro magrelo no átrio".

Ela é alvo do Congresso (um comitê apura sua conduta como secretária de Estado no episódio de 2012 que culminou na morte do então embaixador dos EUA na Líbia, Chris Stevens) e do FBI (que a investiga por usar e-mail privado para mensagens governamentais sigilosas).

Rob Kerr - 5.mai.2016/AFP
O pré-candidato republicano Donald Trump discursa em comício em Eugene, no Estado do Oregon
O pré-candidato republicano Donald Trump discursa em comício em Eugene, no Estado do Oregon

Sob suspeita, ainda, estão as atividades da Fundação Clinton e a resistência em liberar transcrições de palestras que fez, a US$ 675 mil no total, em bancos e instituições ligadas a Wall Street.

E este é só o começo. Em 175 dias, a democrata Hillary Clinton e o republicano Donald Trump deverão disputar a Presidência dos EUA. Até lá, revezarão o modo "ataque", expondo os esqueletos no armário do rival, e "defesa", escondendo os próprios.

Ex-primeira-dama, ex-senadora e ex-chanceler no governo Obama, a condômina sazonal de Washington tem amplo telhado de vidro na política. Já o neófito em corridas eleitorais terá a vida privada posta sob inédito escrutínio.

Quanto Trump paga de impostos? "Não é da sua conta", respondeu à rede ABC.

A recusa em divulgar a declaração de renda antes de uma "auditoria rotineira", que não deve sair antes da eleição de 8 de novembro, é a atual ogiva contra sua campanha. Obrigado ele não é, mas todos os presidenciáveis o fazem desde 1976.

O arsenal anti-Trump inclui um ex-mordomo de sua mansão na Flórida.

Anthony Secal entrou na mira do serviço secreto por ameaçar o presidente (um cristão que o mordomo diz ser muçulmano) em redes sociais e fazer sugestões aludindo os assassinatos de negros nos EUA na primeira metade do século passado. A equipe de Trump diz "repudiar as horríveis declarações".

MULHERES

O passado voltou a emergir em reportagem do "New York Times", que entrevistou mais de 50 pessoas sobre como o magnata tratava mulheres em sua vida particular.

É o retrato ambíguo de um homem que as incentiva profissionalmente ao mesmo tempo que dispara frases como "você gosta de doce" (a uma executiva acima do peso médio) e "é uma linda 'Garota Trump', não? (ao exibir, numa festa, uma modelo de biquíni a seu pedido).

Também veio à tona uma gravação de 1991, em que um porta-voz que se apresentou como John Miller falava sobre o chefe —Trump— "ter, tipo, muitas namoradas" a uma repórter da "People".

Como a voz e os cacoetes lembram bastante os de Trump, logo se suspeitou da farsa. Ele nega.

Outra dor de cabeça é a Universidade Trump, criada em 2005 com cursos on-line para "empreendedores de sucesso". Ex-alunos, que pagaram até US$ 35 mil o acusaram de fraude, e o Estado de Nova York entrou com ação civil de US$ 40 milhões.

Advogados de Trump (que se diz inocente) conseguiram adiar o julgamento para três semanas após as eleições.

HILLARY

Hillary não deve ter a mesma sorte. Duas bombas podem explodir em seu colo antes do pleito.

Em outubro, já pré-candidata, assumiu responsabilidade ante uma comissão do Congresso por falhas de segurança que levaram à morte de quatro americanos na Líbia em 2012, inclusive o embaixador dos EUA no país, em um ataque de militantes.

"Perdi mais sono que todos vocês juntos. Quebrei a cabeça para imaginar o que mais poderia ser feito", disse Hillary à comissão, ainda ativa.

Em abril, Trump questionou a "insônia": "Em vez de assumir o comando naquela noite, Hillary decidiu ir para a casa e dormir. Incrível".

Há chance, ainda, de ela ser interrogada pelo FBI neste ano por 55 mil páginas de e-mails que mandou de um servidor particular enquanto era secretária de Estado.

O site de sua campanha diz que o fez "por conveniência" e que nenhuma informação, à época, era considerada danosa às relações diplomáticas ou à segurança nacional.

Outro ponto fraco envolve um braço da Fundação Clinton que, segundo o "Wall Street Journal", teria direcionado milhões de dólares privados e federais à empresa de energia de uma amiga do ex-presidente Bill Clinton.

Doutor pela Universidade Georgetown, Stephen Farnsworth diz à Folha acreditar que, apesar de tudo, Hillary está numa posição mais confortável do que a de Trump.

"A mídia discutiu pouco as controvérsias de Benghazi e sobre os e-mail porque o foco tem ido todo para o republicano. O passado de Hillary é uma mina de ouro de polêmicas, mas, enquanto Trump dominar o noticiário, será melhor para ela."

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TELHADO DE VIDRO
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TRUMP

Origem da riqueza
Empresário, que enriqueceu no setor imobiliário, se recusa a divulgar declaração do Imposto de Renda: "Não é da conta de ninguém", alega

Círculo próximo
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Gato por lebre 2
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HILLARY

Erro de avaliação
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Segredos de Estado
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Tráfico de influência
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A portas fechadas
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