Folha de S. Paulo


Governos latino-americanos e ONU comentam afastamento de Dilma

Depois da votação do Senado que culminou no afastamento da presidente Dilma Rousseff nesta quinta-feira (12), os governos latino-americanos e os secretários-gerais dos órgãos da região se manifestaram sobre a situação no Brasil.

A maioria dos países membros do Mercosul usou tom mais brando para comentar sobre a crise brasileira. Pelo Twitter, a chanceler argentina, Susana Malcorra, disse que o país respeita "o processo institucional" que acontece no país.

Ela afirma confiar que o resultado da situação consolidará "a solidez da democracia brasileira" e que a Argentina vai continuar dialogando com as autoridades brasileiras para desenvolver as relações bilaterais com o Brasil.

Susana Malcorra 1

Susana Malcorra

O ministro das Relações Exteriores paraguaio, Eladio Loizaga, disse que o país "respeita as decisões institucionais" do Brasil e disse que a postura "parte do princípio de não intervenção nos assuntos internos de outros Estados".

"A posição do Paraguai é não interferir em questões internas de outros Estados como não queremos e não quisemos que se metessem em um certo momento aqui", disse, em referência ao impeachment de Fernando Lugo, em 2012.

O então presidente foi deposto em um julgamento feito em 36 horas pelo Senado paraguaio. Na ocasião, o Mercosul suspendeu o país por considerar que o impeachment representou "uma alteração da ordem democrática".

No Uruguai, o chanceler Rodolfo Nim Novoa não comentou especificamente sobre o impeachment. Porém, disse que a situação política brasileira pode atrapalhar as negociações do tratado entre o Mercosul e a União Europeia.

Para ele, no entanto, o afastamento de Dilma Rousseff pode ter efeito similar nas negociações que a dificuldade da Espanha de formar um novo governo. No dia 3, o rei Felipe 6º convocou novas eleições no país europeu.

Nenhum dos países, no entanto, comentou sobre a possibilidade de aplicação da cláusula democrática do Mercosul ou de uma reunião de emergência dos demais membros do bloco sobre a situação do Brasil.

A discussão sobre a suspensão do Brasil, porém, é diferente na Unasul (União das Nações Sul-Americanas) e na OEA (Organização dos Estados Americanos). Os líderes dos blocos planejam submeter a questão aos demais países.

Em entrevista, o secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper, disse que, caso Dilma seja destituída, seria necessário analisar uma possível ruptura do sistema democrático que deveria ser analisada pelos outros 11 membros.

"Até o momento, não há uma ruptura democrática. Se continua este processo poderíamos chegar a uma ruptura que levaria à análise da aplicação ou não da cláusula democrática", disse o colombiano.

Na terça (10), o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, havia dito que levaria o impeachment à Corte Interamericana de Direitos Humanos. "As causas evocadas para o impeachment de Dilma geram incerteza jurídica", disse.

ALIADOS DO PT

Aliados internacionais do PT chamaram o afastamento de golpe. Em nota, a Chancelaria da Venezuela disse se tratar "golpe parlamentar, articulado mediante farsas jurídicas das cúpulas oligárquicas e forças imperiais".

"A presidente legítima enfrenta uma arremetida motivada pela vingança daqueles grupos que perderam as eleições e são incapazes de chegar ao poder político por outra via que não a força", disse o ministério.

Delcy Rodríguez

O presidente da Bolívia, Evo Morales, disse sentir a mesma indignação dela "e de seu povo frente ao golpe congressual e judicial". "Nós, povos humildes, condenamos o atentado contra a democracia e a instabilidade política na região".

Evo 1

Evo 2

Já o regime de Cuba considerou "uma forma de usurpar o poder que não puderam ganhar na eleição". "É parte da contraofensiva reacionária do imperialismo e da oligarquia contra os governos revolucionários e progressistas".

No Equador, o governo do presidente Rafael Correa fez referência à votação de Dilma e disse que contra ela "não pesa, até o momento, uma só acusação que a vincule com a punição de um delito comum".

"O Equador apela à plena vigência e preservação das instituições democráticas e dos valores que a sustentam, assim como os princípios da Unasul como elementos indispensáveis para a paz, a justiça e a integração dos povos".

OUTROS

Outros países latinos manifestaram preocupação. No Chile, o governo da presidente Michelle Bachelet considerou que a crise brasileira "geraram incerteza em nível internacional, considerando a gravitação do Brasil".

O Ministério das Relações Exteriores da Colômbia disse que acompanha de perto os acontecimentos "pela relevância do Brasil e pelo trabalho construtivo que tivemos durante esses anos com o governo da presidente Dilma Rousseff".

Em comunicado, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon pediu "calma e diálogo entre todos os setores da sociedade". O chefe da ONU disse acreditar "que as autoridades do país vão honrar os processos democráticos do Brasil, aderindo ao Estado de Direito e à Constituição".

Na Europa, Espanha e Portugal se dizem preocupados com o Brasil e esperam que o afastamento não prejudique a relação entre os países e o governo brasileiro.


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