Folha de S. Paulo


Líder antissistema é eleito presidente das Filipinas após campanha suja

O candidato antissistema Rodrigo Duterte, 70, que realizou uma campanha cheia de provocações aos adversários, foi eleito presidente das Filipinas no pleito desta segunda (9). O resultado foi confirmado nesta terça-feira (noite de segunda no Brasil).

Com 88% dos votos apurados, Duterte obtinha 38,65% dos votos válidos, ou mais de 15 milhões de sufrágios, com uma vantagem de 5,84 milhões para segunda colocada, Mar Roxas, aliada do atual presidente, Benigno Aquino.

Erik De Castro/Reuters
O presidente eleito das Filipinas, Rodrigo Duterte, vota na cidade de Davao nesta segunda-feira (9)
O presidente eleito das Filipinas, Rodrigo Duterte, vota na cidade de Davao nesta segunda-feira (9)

Em terceiro lugar ficou a senadora Grace Poe, com 22%. Não existe segundo turno no país asiático. Esta é a primeira vitória de um candidato presidencial fora das principais famílias políticas das Filipinas desde o fim da ditadura de Ferdinand Marcos, em 1986.

Prefeito de Davao, terceira maior cidade filipina, por mais de 20 anos, o candidato já cantava vitória antes do início da apuração. Horas após o fechamento das urnas, ele pedia a união do país depois da campanha mais acirrada e que provocou mais divisão na história. "Quero estender minhas mãos para que possamos começar a cura agora", disse.

Duterte foi um dos principais artífices da campanha suja. Com o histórico de pacificar a cidade de Davao nos últimos anos, ele defendeu punições mais duras a criminosos, uma Justiça mais eficaz e uma polícia mais organizada.

No entanto, provocou críticas de seus opositores por defender a morte de criminosos. No último comício, ele pediu aos seguidores que esquecessem as leis de direitos humanos.

"Se for eleito presidente, farei exatamente o que fiz como prefeito. Vocês, traficantes, assaltantes e canalhas, seria melhor que fossem embora, porque vou matá-los", advertiu.

Ele ainda é acusado de autoritarismo ao ameaçar atuar por decreto, caso os congressistas não sigam suas orientações e políticas, três décadas depois da revolução que expulsou do poder o ditador Ferdinand Marcos.

"Preciso da ajuda de vocês para deter o retorno do terror ao nosso país. Não posso fazer isto sozinho", disse no sábado Benigno Aquino, cuja mãe, Corazón Aquino, liderou o movimento democrático que derrubou Marcos.

Mas os filipinos, que não viram o crescimento econômico do país resultar em um avanço de seu nível de vida, parecem ter ignorado as advertências e preferiram ouvir o discurso de Duterte contra a elite.

Em um país no qual 80% dos habitantes são católicos praticantes, Duterte se permitiu até xingar o papa Francisco. O papa foi chamado de "filho da puta" pelo candidato por provocar engarrafamentos durante uma visita.

A eleição foi marcada pela violência. Segundo a polícia, 15 pessoas morreram em ataques com motivação política e dez em ações suspeitas de ter relação com o pleito.


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