Folha de S. Paulo


Premiê britânico diz que paz ficará ameaçada se Reino Unido deixar UE

Em defesa da permanência do Reino Unido da União Europeia, o premiê britânico, David Cameron, afirmou nesta segunda (9) que "a paz e estabilidade estarão ameaçadas" se o país deixar o bloco.

No dia 23 de junho, os britânicos decidirão, em referendo, se querem ficar ou sair da UE. Pesquisas de intenção de voto indicam empate técnico entre o "sim" e o "não".

O apelo patriótico de Cameron foi feito pela manhã, em discurso num museu em Londres. Pela primeira vez, o premier deixou de ressaltar os riscos econômicos para explorar a possibilidade de o "Brexit" (a saída Reino Unido da UE) gerar ameaças à segurança nacional na Europa.

"Podemos ter certeza de que a paz e a estabilidade em nosso continente estarão asseguradas sem nenhuma sombra de dúvida? Vale correr esse risco?", questionou.

Cameron diz que o isolamento nunca fez bem ao Reino Unido: "Sempre que viramos as costas à Europa, nós nos arrependemos".

O premier britânico recorreu à história citando como exemplo conflitos nos tempos do imperador romano Júlio César (na idade Antiga) e do francês Napoleão Bonaparte (no século 19), para justificar por que acredita que a Europa precisa permanecer coesa num único bloco.

Cameron disse ainda que o país depende da Europa para evitar ataques de redes modernas de terrorismo, como o Estado Islâmico.

Ainda que o premiê não tenha usado a palavra "guerra", para os mais críticos e para os defensores do Brexit, Cameron exagerou ao apelar para a segurança nacional.

Integrantes do governo tentaram minimizar potenciais danos da declaração.

O chanceler britânico, Philip Hammond, por exemplo, tentou esclarecer que o primeiro-ministro não estava sugerindo que haverá guerra entre os países da Europa, mas que a segurança do continente sem o Reino Unido no bloco seria menos eficiente.

Isso porque, segundo Hammond, há efetiva troca de informação entre os serviços de inteligência dos 28 países membros da UE.

TERCEIRA GUERRA

As declarações de Cameron provocaram críticas imediatas. "Sair [da UE] não vai nos levar à Terceira Guerra Mundial", rebateu Boris Johnson, que acaba de encerrar seu mandato como prefeito de Londres.

Johnson, que disputa com Cameron a liderança do Partido Conservador e que se tornou o principal porta-voz dos que defendem a saída do bloco, disse não acreditar nas declarações de Cameron num discurso feito também nesta segunda (9), pouco depois do discurso do premiê.

Também ironizou o colega de partido ao lembrar que, há poucos meses, Cameron havia dito que as pessoas deveriam votar para sair da UE caso fracassasse o acordo costurado pelo premiê para mudar alguns itens da relação do Reino Unido com o bloco.

Em fevereiro deste ano, Reino Unido e UE firmaram um acordo na tentativa de garantir um status especial aos britânicos dentro do bloco.

Cameron conseguiu, por exemplo, autorização para limitar benefícios a imigrantes europeus recém-chegados e garantia de que não haverá discriminação por seu país estar fora da zona do euro.


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