Folha de S. Paulo


OPINIÃO

Para os problemas da Europa, a solução é mais Europa

A União Europeia (UE) celebra neste 9 de maio o Dia da Europa.

Tem ainda toda a atualidade a histórica declaração do antigo chanceler francês Robert Schuman, um dos pais fundadores da UE, de que "a paz mundial não pode ser salvaguardada sem se fazer esforços criativos proporcionais aos perigos que a ameaçam".

Isso foi em 1950 –numa época em que Schuman e outros grandes líderes europeus olhavam para trás e viam duas guerras mundiais que tinham subjugado o continente e o resto do mundo. Perceberam que não mais era possível continuar como antes.

Hoje, a UE é a mais profunda experiência de integração regional e de partilha de soberania que o mundo já conheceu. Uma união com 28 Estados-membros e meio bilhão de pessoas vivendo em paz e trabalhando juntas.

Uma união que tornou impensável uma guerra no solo europeu, onde a história já semeou tantas guerras ao longo dos séculos.

Em 60 anos, a Europa vivenciou uma transformação profunda, tornando-se uma das regiões mais prósperas e pacíficas do mundo.

A Europa passou a ser um símbolo de paz, liberdade e prosperidade, ajudando países europeus a fazer a transição para a democracia e absorvendo-os na União.

É importante não perder de vista a trajetória histórica num momento em que a Europa e o mundo se defrontam com problemas novos e profundos.

Os novos desafios são consideráveis e visivelmente encontram suas raízes no cruzamento do local com o global.

Por um lado, temos problemas que em boa verdade são fruto da profundidade da integração europeia. A crise do euro, por exemplo, resultou da criação de uma moeda única que não estava ancorada num Orçamento e num Tesouro comuns. Hoje essa crise está ultrapassada por via da criação de novas regras de gestão da moeda comum.

A crise migratória relaciona-se com a abolição de nossas fronteiras internas sem harmonização completa do controle externo das fronteiras. Também nessa matéria o caminho que será seguido será um de aprofundamento das nossas regras comuns. Para a Europa, a solução é mais Europa.

Ao mesmo tempo, vivemos num mundo que é novo, um mundo em que os ventos de uma globalização acelerada nos trazem desafios que requerem coordenação internacional em nível sem precedentes.

Encontramos exemplos nas mudanças climáticas, na governança econômica, no combate ao terrorismo e mesmo na procura de soluções para a nossa vizinhança turbulenta para o Leste e para o Sul.

Problemas globais requerem governança global, e a nossa convicção é de que os valores e o pragmatismo que uniram e levaram a UE da guerra para a paz devem continuar a dirigir nossas ações e nossa cooperação com nossos parceiros no mundo inteiro.

Com o Brasil, um de nossos parceiros estratégicos, compartilhamos valores democráticos e o respeito pelas liberdades e pelos direitos humanos; valorizamos de forma igualmente intensa a preservação da paz, a promoção da democracia e a procura pelo desenvolvimento sustentável.

O Brasil é um dos principais parceiros da UE no mundo, e estamos convencidos de que essa importância irá intensificar-se ainda mais nos próximos anos.

Por meio das relações econômicas, por exemplo, estreitaremos ainda mais os nossos laços. Nesta semana, a UE e os países do Mercosul dão um impulso grande ao processo negociador para um acordo de livre comércio, um evento significativo, uma vez que a UE recebe mais de 20% das exportações brasileiras.

Além disso, a UE é de longe o maior investidor estrangeiro no Brasil, com cerca de 60% dos investimentos estrangeiros. Essa cifra representa um sinal de confiança europeia no futuro do Brasil.
A leitura mais simplista e banal diz-nos que a UE e o Brasil enfrentam ambos desafios consideráveis.

Verdade, mas muito mais importante é a visão mais alargada que abarca a história e uma ideia de futuro. É isso que nos dá otimismo sobre a relação UE-Brasil, e a convicção de que essa relação é boa também para o mundo.

JOÃO CRAVINHO é embaixador da União Europeia no Brasil


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