Folha de S. Paulo


EUA e Rússia acertam a ampliação do cessar-fogo na Síria à cidade de Aleppo

Os Estados Unidos e a Rússia concordaram em estender a trégua na Síria para incluir no cessar-fogo a cidade de Aleppo, palco de violentos combates, informou o departamento de Estado americano.

"Desde que isso entrou em vigor a 00H01 de Damasco, vimos uma diminuição da violência nessas áreas", afirmou o porta-voz Mark Toner.

Moscou e Washington já haviam alcançado na semana passada um acordo para o "congelamento" das hostilidades durante 24 horas prorrogado duas vezes em Ghouta Oriental e na província de Latakia, que continua sem registro de novos confrontos.

Intensos combates em Aleppo, no norte da Síria, e bombardeios da aviação do regime contra regiões rebeldes a leste da capital, ilustravam nesta quarta-feira a dificuldade das grandes potências de promover um novo cessar-fogo.

Desde a retomada das hostilidades, em 22 de abril, na segunda maior cidade do país, 284 pessoas, incluindo 57 crianças e 38 mulheres, morreram na violência, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

A cidade está dividida desde 2012 e a nova escalada de violência fez 156 vítimas do lado rebelde, quase que exclusivamente em ataques do regime, e 128 vítimas em bombardeios rebeldes contra setores controlados pelo governo.

COMBATES VIOLENTOS

Nesta quarta (4), três civis foram mortos quando um foguete caiu em um bairro controlado pelo governo, segundo a agência de notícias oficial SANA.

Os confrontos diretos foram retomados na terça-feira, quando uma coalizão de grupos rebeldes, "Fatah Halab" ("A conquista de Aleppo") lançou uma ofensiva nos bairros controlados pelo regime.

São "os combates mais violentos em Aleppo em mais de um ano", indicou o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman.

Os confrontos continuaram durante a noite com tiroteios e ataques aéreos, de acordo com um correspondente da AFP.

"Eu não acredito que os ataques aéreos vão parar, porque a decisão não está nas mãos do presidente Bashar al-Assad, mas nas de seu aliado russo", declarou Mahmud Sendeh, um militante rebelde de 26 anos.

CESSAR-FOGO

No dia anterior, a Rússia afirmou que esperava um cessar-fogo "nas próximas horas" em Aleppo.

"Russos e americanos (...) tentaram introduzir um regime de silêncio (cessação das hostilidades) em e entorno de Aleppo", afirmou nesta quarta a repórteres o porta-voz militar russo, Igor Konashenkov, em Hmeimim, uma base aérea onde as forças russas estão estacionadas na província de Latakia (oeste).

Mas "o regime de silêncio foi impedido pela Frente Al-Nosra", indicou, referindo-se ao ramo sírio da Al-Qaeda na Síria.

Rússia e Damasco justificaram assim a ofensiva lançada em Aleppo em 22 de abril, que acabou com a trégua estabelecida entre o regime e os rebeldes, mas que excluía grupos jihadistas, tais como o Estado Islâmico e a Frente Al-Nosra.

"O problema é que todo mundo tem uma visão diferente do cessar-fogo. O regime e os russos consideram que a partir do momento em que há membros da Al-Nosra, mesmo que apebas 2%, todo o resto é Al-Nosra também. Esta não é a nossa visão", declarou uma fonte diplomática europeia.


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