Folha de S. Paulo


Las Vegas da Macedônia lucra perto de campo de refugiados na Grécia

Quando a noite começa a cair no campo de refugiados de Idomeni, Grécia, uma construção se destaca no horizonte com suas luzes de neon. É o Casino Flamingo, do outro lado da fronteira, na cidade macedônia de Gevgelija.

O local fica a apenas 2,5 km em linha reta do acampamento, mas separado pela cerca erguida pelo governo da Macedônia para impedir a passagem dos mais de 10 mil acampados de Idomeni.

Juliano Machado - 24.abr.2016/Folhapress
O Casino Flamingo, atração turística de Gevgelija, na Macedônia, fica a 2,5 km do campo de Idomeni
O Casino Flamingo, atração turística de Gevgelija, na Macedônia, fica a 2,5 km do campo de Idomeni

O drama dos refugiados está ao lado, mas em Gevgelija, chamada de Las Vegas macedônia por causa de seis cassinos e outras casas de jogos, não existe crise.

A Folha visitou o Flamingo na noite de domingo passado (24) e encontrou o estacionamento praticamente lotado —a maioria dos carros tinha placa da Grécia.

A gerência não quis falar com a reportagem, mas uma funcionária que se identificou apenas como Victoria disse que a situação do lado grego da fronteira não afugentou os visitantes. "O movimento continua o mesmo. Não tivemos nenhum prejuízo."

Enquanto a taxa de desemprego da Macedônia ficou em 26% no ano passado, em Gevgelija girou em torno de 10%, segundo números da Prefeitura. Estima-se que os cassinos empreguem cerca de 10 mil pessoas direta ou indiretamente.

O primeiro cassino da cidade, o Apollonia, foi aberto em 1984, na tentativa de aproveitar a localização estratégica de Gevgelija como rota de passagem da Grécia para os países dos Bálcãs e impulsionar a economia da região, antes restrita ao comércio de frutas e hortaliças.

Após a Macedônia se tornar independente da antiga Iugoslávia, em 1991, o governo incentivou mais empresários a investir em cassinos. Outro fator importante foi a proibição dos jogos de azar na Grécia, em 2002, que fez os apostadores do país buscarem Gevgelija.

O setor chegou a temer que o negócio fosse prejudicado no fim do ano passado, quando a fronteira ainda estava aberta. Milhares de refugiados usavam Gevgelija, com apenas 22,8 mil habitantes, como ponto de parada para seguir viagem pela chamada rota balcânica, usada por cerca de 1 milhão de pessoas no ano passado.

O prefeito, Ivan Frangov, chamou a situação de "desastre" para o turismo. Agora, com a passagem bloqueada, não há refugiados andando pelas ruas —só gente disposta a se divertir com as apostas.


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