Folha de S. Paulo


Quase 70 morrem em Aleppo, Síria, em ataques a hospital e a outros alvos

Abdalrhman Ismail/Reuters
Membros da defesa civil socorrem vítimas de ataque aéreo contra um hospital em Aleppo
Membros da defesa civil socorrem vítimas de ataque aéreo contra um hospital em Aleppo

Uma onda de ataques aéreos e explosões deixou ao menos 69 mortos em menos de 24 horas na cidade de Aleppo, disseram monitores do conflito sírio e ativistas nesta quinta-feira (28).

A cidade é agora um dos principais campos de batalha na devastadora guerra civil síria, com um cessar-fogo que entrou em colapso e negociações de paz interrompidas em Genebra (Suíça).

Ao menos 27 pessoas morreram quando quatro ataques aéreos atingiram, pouco antes da meia-noite (18h em Brasília) de quarta (27), o hospital de campanha Quds —apoiado pela ONG Médicos Sem Fronteiras e pelo Comitê da Cruz Vermelha (CICV)— e prédios vizinhos em Sukkari, na parte da cidade controlada por rebeldes que se opõem ao ditador Bashar al-Assad, informou o Observatório Sírio de Direitos Humanos.

Em um comunicado, o MSF disse que ao menos 14 pacientes e membros da equipe foram mortos, com a expectativa de que o número total de vítimas aumente.

O Observatório responsabilizou o regime de Assad pelos ataques e disse que, entre os mortos, haveria três crianças e seis membros da equipe médica, incluindo um dentista e um dos últimos pediatras na área opositora na cidade.

O hospital era um dos principais centros médicos operando em Aleppo desde que a cidade se tornou profundamente dividida, em 2012.

O Exército da Síria e o governo russo, que promove ataques aéreos na Síria em apoio a Assad, negaram ser responsáveis pela ação contra o hospital.

O porta-voz do Ministério de Defesa russo, Igor Konashenkov, disse, em comunicado, que aviões russos não realizam missões de voo na região de Aleppo há vários dias.

O Exército russo afirmou que seus aviões na Síria não atingem as forças de oposição que respeitam o cessar-fogo.

O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, John Kirby, afirmou que "todos os indícios" sugerem que o ataque ao hospital foi realizado pelo regime sírio.

O enviado especial da ONU para a Síria fez um apelo para que os EUA e a Rússia ajudem a reavivar as negociações de paz e o cessar-fogo, que, segundo ele, "está por um fio".

Entretanto, a violência só aumentou. Novos ataques nesta quinta deixaram ao menos 20 mortos em áreas rebeldes e outros 22 mortos em áreas controladas pelo regime.

Segundo comandantes rebeldes, as forças do governo têm mobilizado soldados, equipamentos e munição em preparativos para uma ação militar em Aleppo.

Na semana passada, cerca de 200 civis morreram na Síria, sendo a metade deles ao redor de Aleppo. Houve também bombardeios em Damasco, além da explosão de um carro-bomba —ambos acontecimentos uma raridade na capital.

Desde o início da guerra na Síria, em 2011, mais de 270 mil pessoas morreram e mais da metade da população do país deixou suas casas.

DESASTRE HUMANITÁRIO

Após o bombardeio, o CICV alertou que o norte da cidade de Aleppo está à beira de um desastre humanitário, resultado dos combates diários, colocando milhões em grave risco.

Marianne Gasser, chefe da missão do CICV na Síria, disse que o ataque ao hospital é "inaceitável e infelizmente esta não é a primeira vez que equipes médicas foram atingidas".

O comitê também advertiu que os estoques de comida e de ajuda médica devem se esgotar rapidamente, e que uma escalada no combate significa que os itens não poderão ser repostos.

Só em 2015, mais de 60 instalações apoiadas pela ONG Médicos Sem Fronteiras foram atingidas por 94 ataques na Síria, das quais 12 foram completamente destruídas, segundo relatório divulgado pela entidade em fevereiro.

Onde fica Aleppo

INVASÃO

O governo da Síria denunciou a entrada de 150 soldados norte-americanos em seu território, no que chamou de agressão e uma óbvia violação da soberania do país.

Uma declaração do ministro das Relações Exteriores afirma que os soldados chegaram à cidade de Rmeilan, localizada na província curda de Hassakeh, ao norte do país.

Na segunda-feira (25), o presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou o envio de 250 militares americanos à Síria, incluindo tropas especiais, para ajudar no combate à facção terrorista Estado Islâmico (EI).

Obama apontou as recentes vitórias contra a milícia terrorista e disse que as tropas ajudarão "a manter esse momento" contra o EI. A ação aumentará significativamente a presença norte-americana na região, que atualmente conta com 50 soldados.

O pronunciamento do ministro diz que a entrada dessas tropas é "uma intervenção ilegítima e que fora rejeitada, feita sem o consentimento do governo sírio".


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