Folha de S. Paulo


Fracassa acordo para formar governo, e Espanha fará novas eleições

Um impasse político que se prolonga desde dezembro levará a Espanha a repetir eleições em 26 de junho. É a primeira vez em mais de 40 anos de democracia que o país não consegue um acordo para eleger seu primeiro-ministro.

"Não há bloqueio institucional, talvez haja político. As instituições estão funcionando com normalidade e vigor, tanto que teremos eleições, a coisa mais democrática que existe", disse o presidente do Congresso, Pátxi López.

Andrea Comas-29.fev.16/Reuters
Pedro Sánchez, líder do partido espanhol PSOE
Pedro Sánchez, líder do partido espanhol PSOE

A frustração se mostrava no rosto dos líderes partidários que se revezaram em entrevistas ao longo do dia. A troca de acusações sobre a responsabilidade pelo fracasso do processo deu início, de fato, à nova campanha eleitoral.

O secretário-geral do PSOE (social-democrata), Pedro Sánchez, culpou o líder do esquerdista Podemos, Pablo Iglesias, acusando-o de colocar a busca por cargos no governo à frente do desejo de mudanças. "[Iglesias] trancou a porta e jogou o cadeado fora", disse Sánchez.

A declaração veio após o fracasso da tentativa de última hora de um acordo da esquerda, proposto pelo partido regional valenciano Compromisso, aliado de Iglesias.

Sánchez, que já havia fechado acordo com o partido de centro-direita Cidadãos, de Albert Rivera, aceitou 27 dos 30 pontos propostos, mas descartou repartir cargos.

"Sánchez disse demasiados 'nãos' ", afirmou Iglesias.

O primeiro-ministro em exercício, Mariano Rajoy, do PP (conservador), disse não se sentir fracassado.

"Repetir eleições não é bom, mas teria sido muitíssimo pior se tivéssemos qualquer um dos governos [propostos] que estiveram circulando por aí nos últimos quatro meses", disse Rajoy.

GRANDE COALIZÃO

O premiê propôs ao PSOE uma grande coalizão como a de Angela Merkel na Alemanha, mas foi rechaçado.

Em contraposição à velha guarda representado por Rajoy, 61, Pablo Iglesias, 37, e Albert Rivera, 36, eram as caras jovens do que foi saudado como a "nova política" em 2015, uma geração que ganhou projeção após a crise econômica e de moral baixo que atingiu a Espanha nos últimos anos.

Gerard Julien-21.dez.16/AFP
O líder do partido de esquerda Podemos, Pablo Iglesias
O líder do partido de esquerda Podemos, Pablo Iglesias

A votação expressiva de seus partidos em 2015 levou analistas a anunciarem o fim do bipartidarismo, simbolizado por décadas de alternância no poder de PSOE e PP.

"Ficou provado o fracasso da nova política para impulsionar a mudança no país", disse o cientista político Ángel Valencia.

"Havia a exigência de uma nova forma de fazer política, de realizar reformas, de diminuir o sofrimento gerado pela crise econômica, e partidos como Podemos e Cidadãos acolheram isso, mas a nova política ficou mais na forma de comunicação, em líderes mais midiáticos", afirma.

Com o impasse insolúvel após a terceira e última rodada de consultas do rei Felipe 6º aos líderes políticos, encerrada nesta terça (26), a Casa Real informou oficialmente que não há candidato para uma nova tentativa de formar governo. Na próxima segunda (2), quando estiver cumprido o prazo constitucional, será dissolvido o Congresso.

Pesquisas de intenção de voto, porém, mostram tendência à repetição, com pequenas variações, dos resultados de dezembro. Na do instituto Metroscopia publicada pelo jornal "El País" dia 22, o PP lidera com 29% dos votos.

A maior novidade é a chance de o Podemos ficar em segundo, com 20,8%, caso se alie à Esquerda Unida. O PSOE tem 20,1% das preferências, e o Cidadãos, 17,7%.


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