Folha de S. Paulo


Prefeito de Londres atrai críticas ao chamar Obama de 'metade queniano'

O prefeito de Londres, Boris Johnson, que é um dos líderes da campanha para que o Reino Unido saia da União Europeia, enfrentou uma onda de críticas nesta sexta (22) ao sugerir que o presidente dos EUA, Barack Obama, tem uma "aversão ancestral pelo Império britânico" por causa de suas raízes quenianas.

Durante uma visita ao Reino Unido, Obama entrou no debate britânico sobre a continuidade na União Europeia, pedindo que os eleitores apoiem a permanência do país no bloco de 28 países.

Stefan Wermuth -19.abr-2016/Reuters
Prefeito de Londres, Boris Johnson, participa de evento na Trafalgar Square
Prefeito de Londres, Boris Johnson, participa de evento na Trafalgar Square

Durante uma coletiva com o premiê David Cameron, Obama disse: "Não acho que a UE abrande a influência do Reino Unido no mundo —ela a aumenta".

Sua opinião —também expressa em um artigo no jornal "Daily Telegraph"— irritou aqueles que defendem a saída em um referendo em 23 de junho, acusando o líder americano de interferência interna.

Johnson disse que o conselho do Obama era "paradoxal, inconsistente, incoerente" porque os americanos "nunca contemplariam nada como a UE para si mesmos".

Escrevendo no tabloide "The Sun", Johnson relembrou uma alegação de que um busto do ex-premiê britânico Winston Churchill (1951-1955) foi retirado do Salão Oval depois da eleição de Obama e devolvido à embaixada britânica.

Johnson escreveu que alguns interpretaram a remoção do busto como "símbolo da aversão ancestral do presidente metade queniano em relação ao Império Britânico, o qual Churchill defendia fervorosamente".

O pai falecido de Obama era do Quênia, uma ex-colônia britânica que conquistou a independência nos anos de 1960.

Mais tarde, Johnson afirmou que era "um grande fã de Barack Obama" e que não havia tentado sugerir que o presidente era antibritânico.

Mas os comentários do prefeito atraíram críticas de seus opositores políticos. O ex-líder democrata-liberal Menzies Campbell disse que "esse ataque constitui uma mancha inaceitável".

Justin Tallis/AFP
Primeiro-ministro britânico, David Cameron (esq.), cumprimenta presidente Barack Obama em Londres
Primeiro-ministro britânico, David Cameron (esq.), cumprimenta presidente Barack Obama em Londres

"Muitas pessoas acharam o pesado ataque de Boris Johnson contra a sinceridade do presidente Obama profundamente ofensivo", disse.

Stephen Wall, ex-representante permanente do Reino Unido na UE, disse: o comentário de Johnson sobre a herança queniana "é degradante para o debate", enquanto a legisladora trabalhista Diane Abbott disse que a "descrição feita por Boris de Obama como 'metade queniano' reflete a pior retórica do movimento ultrarradical americano Tea Party".

Obama não respondeu diretamente às declarações sobre sua ascendência. Mas ele mencionou o busto de Churchill, afirmando que o Salão Oval tinha um espaço limitado e, como primeiro presidente negro dos EUA, pensou ser importante ter um busto de Martin Luther King Jr. no local.


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