Folha de S. Paulo


Equador enfrenta filas e ágio devido à falta de água depois de terremoto

O fornecimento de água tornou-se o principal problema para os sobreviventes da região mais afetada pelo terremoto de magnitude de 7,8 que atingiu o Equador no último sábado (16).

Salvo Perdernales, que por ser a cidade mais afetada é a que mais recebe doações, moradores do resto da província de Malabí enfrentam filas e ágio de até cinco vezes em meio à tragédia.

Com água corrente interrompida pelo rompimento das adutoras e contaminação das estações de tratamento, os moradores dependem de caminhões-pipa distribuídos pelo governo.

Os veículos vêm principalmente da capital Quito, de Guayaquil e de Santo Domingo, mas a entrega do recurso parece não seguir um planejamento, deixando boa parte da população desabastecida.

Não há aviso prévio sobre os caminhões. Em geral os moradores seguiam pelo boca a boca ou então ligavam para as rádios ou emissoras de TV pedindo que o governo chegasse ao local.

Morador de Portoviejo, o taxista Luis Acosta disse ter sido obrigado a pagar, na segunda (18), US$ 3 por um galão de 20 litros de água para ele, a mulher, os dois filhos e os pais. A mercadoria normalmente custa US$ 1.

Apesar do preço mais alto, ele não conseguiu comprar a quantidade que queria. "A dona da loja iria vender quatro galões para um senhor, enquanto eu e outra mulher também precisávamos."

Os casos de preços abusivos, que chegaram a US$ 5 no comércio, levaram três mercearias da cidade a serem tomadas pelo governo, que usou o estado de exceção para evitar a inflação.

Em Manta, a reportagem da Folha viu cobradores de ônibus se oferecendo para buscar galões e tonéis nas cidades vizinhas, cobrando até US$ 1 por recipiente, mas sem garantias de retorno.

Enquanto nas cidades ainda há caminhões-pipa, quem mora na zona rural teve de ir às estradas para pedir água e comida aos motoristas.

A situação mais grave está na estrada que liga Portoviejo a Pedernales, cuja passagem de caminhões e carros está dificultada devido a rachaduras e deslizamentos de terra provocados pelo tremor.

Terremoto no Equador

NÚMERO DE MORTOS

Pedernales, que teve 80% dos prédios destruídos, ainda busca corpos dos mortos na tragédia. No centro da cidade há muitos escombros, e é possível sentir o cheiro forte de cadáveres em putrefação ainda presos nos destroços.

Moradora da cidade, María José Palacios criticou a maneira como as primeiras equipes de resgate atuaram no domingo (17). "Eles usaram escavadeiras para buscar as pessoas presas. Poderiam ter sido mais cuidadosos", disse ela, que perdeu a avó e dois tios na queda de dois hotéis.

A situação ainda é tensa na cidade. Moradores temem novos tremores, como o de magnitude 6,2 da madrugada de quarta (20), roubos e saques. Segundo o governo equatoriano, já morreram 570 pessoas devido à tragédia, sendo 165 em Pedernales. Mais de 2.000 ficaram feridas no município.

Depois de quatro dias, a luz voltou aos pontos próximos ao estádio da cidade, que é usado como centro de operações das autoridades, das organizações humanitárias e da imprensa. Na noite desta quarta-feira, o presidente Rafael Correa anunciou uma série de aumentos de impostos para criar um fundo de recuperação para as áreas destruídas pelo terremoto.

Dentre eles, está a cobrança de um dia de trabalho a quem ganha mais de US$ 1.000, um tributo de 0,9% para patrimônios de mais de US$ 1 milhão e uma alta no Imposto de Valor Agregado (IVA).

Os gastos com a reparação estão avaliados em US$ 3 bilhões, valor que corresponde a cerca de 3% do PIB do país.


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