Folha de S. Paulo


Governo dos EUA pede exibição de vídeo erótico a júri de agentes da DEA

Não é sempre que o governo quer mostrar um vídeo de danças eróticas a um júri.

Mas foi o que aconteceu em um caso bizarro no qual um ex-funcionário e um funcionário civil da Agência Antidrogas dos Estados Unidos (DEA, sigla em inglês) serão levados a julgamento.

Eles são acusados de terem mentido sobre o fato de serem proprietários de um clube de striptease em South Hackensack, no Estado de Nova Jersey, durante as averiguações de seus antecedentes, feitas para finalidades de segurança nacional.

A defesa não quer que o governo apresente as provas em vídeo, que seriam de "terceiros praticando conduta sexual explícita" e que, segundo ela, teriam influência indevida sobre os jurados.

"O efeito prejudicial dos vídeos será tremendo, se forem apresentados como evidências no julgamento", argumentaram os advogados de defesa em documentos arquivados na segunda-feira.

Se o juiz Paul G. Gardephe permitir que os promotores apresentem as provas contestadas, o julgamento, marcado para 2 de maio, pode expor aspectos pouco agradáveis da vida dos clubes de striptease.

Os promotores querem mostrar que os réus e outros falaram abertamente do fato de as dançarinas do clube serem em sua maioria imigrantes ilegais, vindas principalmente do Brasil e da Rússia, que eram obrigadas a pagar outros imigrantes não documentados para levá-las ao clube e para poderem dançar no local.

Os réus são David Polos, 51, ex-agente especial assistente que ajudou a comandar uma força-tarefa especial da organização de combate ao crime organizado e às drogas de Nova York, e Glen Glover, 46, especialista em telecomunicações. Os dois homens se declaram inocentes das acusações de conspiração e prestar declarações falsas.

VÍDEO ERÓTICO

De acordo com documentos registrados no Tribunal Distrital de Manhattan, os promotores querem fazer o júri assistir a um vídeo de 20 minutos de duração contendo imagens explícitas de quatro danças eróticas apresentadas no clube, e querem apresentar depoimentos sobre outras atividades sórdidas, como consumo de drogas, que as autoridades dizem que aconteciam no clube.

A defesa argumenta que o vídeo em questão foi feito em 2014, três anos depois de os réus terem dado depoimentos falsos. Segundo a defesa, Polos e Glover não tinham conhecimento dos fatos mostrados nos vídeos.

A defesa disse que o fato de os réus serem proprietários do clube, o Twins Plus Go-Go Lounge, era um segredo aberto. Mas promotores do gabinete de Preet Bhararam, o promotor público do distrito sul de Nova York, disseram na terça-feira que o vídeo e outras evidências podem ajudar a mostrar ao júri por que os réus tinham motivos para ocultar o papel que exerciam no clube.

Os promotores Martin Bell e Andrew Goldstein escreveram: "Os negócios externos em que Polos e Glover optaram por atuar não eram um empreendimento benigno que pudesse ser bem visto" por altos representantes do governo.

"Em vez disso, como Polos e Glover bem sabiam, ocorriam no clube atividades ilegais importantes que, se fossem descobertas, poderiam ter resultado em consequências adversas graves para os réus", como a perda de suas autorizações de segurança ou até de seus empregos", escreveram os promotores.

Polos se aposentou da DEA e Glover foi suspenso por tempo indeterminado, informou a agência.

Para o advogado de Polos, Marc L. Mukasey, "com todo o mal que acontece no mundo, é desanimador saber que o governo optou por processar um agente da DEA que colocava sua vida em risco diariamente para defender a segurança pública, tudo porque o governo não aprova de um investimento que ele fez em seu trabalho fora da DEA".

A advogada de Glover, Cathy Fleming, não deu declarações.

O gabinete de Bharara disse que Polos combinou que uma dançarina específica, com quem ele mantinha "um relacionamento íntimo", tivesse turnos de trabalho extras para que pudesse pagar o "coiote" que tinha facilitado sua transferência para a área de Newark.

Segundo um indiciamento feito em janeiro, uma das declarações falsas dadas por Polos durante a verificação de seus antecedentes era que ele não tinha tido contato íntimo ou contínuo com estrangeiros, quando na realidade, segundo o governo, ele tinha tido um relacionamento íntimo com a dançarina.

Segundo o governo, as evidências também vão mostrar que Polos e Glover administravam o clube "à base de dinheiro vivo, sem documentação fiscal, sem retenção ou pagamento de impostos trabalhistas".

Tradução de CLARA ALLAIN


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