Folha de S. Paulo


Fim do 'milagre econômico' desafia futuro líder do Peru

Uma caminhada pela "rambla" de Miraflores ou pelas ruas de restaurantes e bares de Barranco, bairros de classe média e alta de Lima, indicam o que foram os anos do "boom" econômico peruano.

Prédios modernos e com segurança privada, ciclovia e parques com wi-fi, comida peruana gourmet e chefs estrelados, roupas modernas e caras nas vitrines, inspiradas nas vestimentas dos antigos habitantes dos Andes.

E muitos turistas da Europa, dos EUA, do Brasil. Nos corredores do shopping Larcomar, encravado nas pedras que dão para o Pacífico, ouvem-se vários idiomas e tiram-se selfies nos miradores.

No mundo da cultura, o Peru inseriu-se na rota de artistas internacionais. "[Antes] uma banda como o Coldplay não viria aqui, teríamos de ir a Bogotá ou Buenos Aires para ver seu show", disse o estudante Martín Reyes, 28.

Nas próximas semanas, a cidade será sede da ArtLima, feira de galeristas internacionais. Há poucos meses, a franquia Hay de festivais de literatura (que existe no Reino Unido, no México, na Colômbia e em outros países) inaugurou sua versão em Arequipa.

Esses são apenas alguns exemplos do "milagre peruano", que se tornou realidade especialmente entre 2005 e 2014 com o "boom das commodities" fazendo crescer a exportação de produtos da mineração. No período, o PIB cresceu em média 6,1%, com uma baixa inflação, de 2,9%.

Paralelamente, uma continuidade na defesa da política de livre mercado e a associação com os países da Aliança do Pacífico tornaram o país atraente para o investimento estrangeiro. O Peru também impulsou o turismo gastronômico e de moda, que se somou ao já exitoso turismo voltado para ruínas de civilizações antigas dos Andes, em Cusco e Machu Picchu.

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Raio-x do Peru -

Crescimento do PIB* (%) -

Pesquisa de intenção de votos* -

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DESAFIOS

O cenário para o próximo presidente peruano, porém, será bem menos favorável. De 2014 para cá, a economia desacelerou. O crescimento em 2015 foi de 2,7%, bem abaixo da média dos últimos anos, e a inflação subiu para 4,1%.

Além do fim do "boom" das commodities, que fez caírem as exportações, a desaceleração da economia mundial diminuiu o investimento estrangeiro. Para completar, as mudanças climáticas afetaram a agricultura e a pesca.

Para mudar esse quadro e recolocar o Peru no caminho do crescimento, os três candidatos mais bem colocados na eleição deste domingo (10) têm propostas diferentes.

A primeira colocada nas pesquisas,Keiko Fujimori (36%), promete mais acordos de livre comércio, redução de impostos e mais investimentos em infraestrutura.

O legado fujimorista que defende, porém, prega proteções ao trabalhador e aumento de políticas assistencialistas, algo que economistas criticam neste momento, porque aumentaria o gasto social.

O segundo colocado, Pedro Pablo Kuczynski (16%), também defende mais acordos de livre comércio, porém prega a flexibilização trabalhista e, sobre os planos de assistência, é mais cauteloso ao afirmar que vai mantê-los, mas sem maiores gastos.

Já a terceira colocada, Verónika Mendoza (15%), tem a plataforma mais diferenciada. A esquerdista defende mais regulação do Estado na economia, principalmente na área da mineração, fazendo com que a exploração de minas seja decidida pelas comunidades, não pelo governo.

Mendoza também prevê a criação de agências reguladoras em outras áreas e é contra a flexibilização do trabalho. A deputada por Cusco quer mais autonomia às regiões para decidir políticas econômicas para áreas mais humildes.

Para isso, defende uma nova Constituição -a atual ainda é da época do fujimorismo, de 1993- para incluir uma nova legislação de proteção aos trabalhadores.

Como nenhum dos candidatos deve alcançar a maioria dos votos, deve haver segundo turno em 5 de junho.

Desde segunda (4), não é mais permitido divulgar pesquisas. Sondagens feitas pelas empresas Datum e Ipsos a pedido de partidos, porém, vazaram por meio de agências internacionais.

Segundo esses números, há um empate técnico entre PPK e Mendoza, com a esquerdista em ascensão, de um a dois pontos à frente do economista. A eleição deste domingo decide também a formação do Congresso.

Segundo a pesquisa mais recente da Ipsos, a tendência é que os fujimoristas conquistem cerca de 60% das cadeiras.


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