Folha de S. Paulo


Grécia retoma a deportação de migrantes para a Turquia

Tuncay Dersinlioglu/Reuters
Imigrantes deportados da Grécia chegam de barco à cidade turca de Dikili nesta sexta-feira (8)
Imigrantes deportados da Grécia chegam de barco à cidade turca de Dikili nesta sexta-feira (8)

A Grécia voltou a deportar migrantes para a Turquia nesta sexta-feira (8), apesar das críticas internacionais e do próprio anúncio do governo grego de que poderia interromper as expulsões por duas semanas para ter tempo de analisar os pedidos de asilo daqueles que cruzaram ilegalmente o mar Egeu desde o dia 20 de março.

Pela manhã, um barco levando 45 pessoas deixou o porto de Mitilene, na ilha de Lesbos, e partiu para a cidade turca de Dikili, a cerca de 25 km de distância. De acordo com a TV estatal grega, todos os passageiros eram paquistaneses. Não se sabe se eles foram embarcados por vontade própria ou se algum deles havia entrado com pedido de asilo.

Quando o barco se preparava para sair de Mitilene, dois ativistas se jogaram na água, enrolaram-se nas correntes da âncora da embarcação e fizeram um sinal de "v". Eles foram rapidamente retirados do mar pela Guarda Costeira. Ao menos outras 30 pessoas acompanharam a partida com protestos, gritando "parem as deportações", "Vergonha da União Europeia" e "liberdade para os refugiados".

As autoridades gregas preveem mais uma viagem com deportados nesta sexta-feira, mas ainda não há informações do número de viajantes.

Durante o dia, espera-se que um outro grupo de 80 migrantes seja expulso de Lesbos no Mar Egeu oriental.

A expulsão de refugiados e migrantes havia começado na segunda-feira (4), quando 202 pessoas foram colocadas em barcos turcos e partiram das ilhas de Chios e Lesbos rumo a Dikili, na Turquia.

No dia seguinte, o governo grego anunciou a suspensão temporária das deportações, afirmando que precisava de mais tempo para analisar os pedidos de asilo daqueles que pretendiam permanecer na Grécia. A decisão ocorreu em meio à denúncia da agência da ONU para refugiados (Acnur) de que ao menos 13 dos 202 expulsos tinham "expressado interesse" em pedir asilo, o que deveria impedir as autoridades gregas de enviá-los à Turquia. O grupo teria sido expulso por "engano".

Vindas do Afeganistão e da República Democrática do Congo, essas 13 pessoas estão em um remoto campo na cidade turca de Pehlivanköy, montado com dinheiro da UE após o acordo do mês passado e que foi projetado para receber os deportados da Grécia.

Na quarta-feira (6), o vice-ministro grego de Relações Exteriores para Assuntos Europeus, Nikos Xydakis, haviam dito que a grande demanda por processos de asilo e a estrutura insuficiente do país para avaliá-los deveriam levar a uma suspensão de duas semanas das deportações, que voltariam apenas no fim do mês.

Preocupado com a situação dos refugiados, o papa Francisco visitará Lesbos no próximo dia 16, anunciou o Vaticano nesta quinta (7). Em 2013, ele foi à ilha italiana de Lampedusa, que naquela época era o principal ponto de chegada de migrantes e refugiados na Europa.

O campo de detenção de Moria, na ilha de Lesbos, abriga hoje cerca de 3.000 migrantes e refugiados –em torno de 90% já manifestaram interesse de asilo na Grécia.

No total, há 52,4 mil migrantes e refugiados em solo grego, dos quais cerca de 5.000 chegaram após 20 de março e estão sujeitos, portanto, a serem expulsos para a Turquia, de acordo com o que prevê o acordo assinado com a UE.

QUEDA

Autoridades registraram 60 mil pedidos de asilo na Alemanha em março deste ano, queda de 11,5% em comparação a fevereiro –em relação a março de 2015, houve aumento de 87%. A maioria dos pedidos são de sírios –o país passa por uma guerra civil que já dura cinco anos e pela invasão do Estado Islâmico–, seguidos por iraquianos e afegãos.

Houve aprovação de 61,6% dos pedidos de asilo pelo Gabinete Federal de Migrantes e Refugiados. Antes do início da crise de refugiados essa taxa era de 42%. O número de pedidos analisados também cresceu: 150.233 foram processados no primeiro trimestre, 159% a mais do que em 2015.

Segundo o ministro do interior alemão, Thomas de Maiziere, cerca de 4.500 requerentes que tiveram seus pedidos negados foram deportados do país em janeiro e fevereiro, mais do que o dobro de 2015. De Maiziere apontou que 5.000 migrantes decidiram sair da Alemanha por conta própria só em fevereiro, comparados com 1.300 do mesmo mês em 2015.

Em torno de 144 migrantes cruzaram a fronteira da Áustria para Alemanha todos os dias em março, queda de 1.300 em comparação com fevereiro e de 2.000 em relação a janeiro.


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