Folha de S. Paulo


Ofensas pessoais entre candidatos ofuscam eleição presidencial no Peru

Todos estão pelo menos 15 pontos percentuais atrás de Keiko Fujimori nas pesquisas para a eleição do próximo domingo (10) no Peru.

Mesmo assim, nenhum dos candidatos cogita uma aliança para unificar o sentimento antifujimorista no momento. Pelo contrário, vêm acentuando as diferenças ideológicas, que vão da esquerda à direita, e subindo o tom das críticas e ataques entre eles.

Mariana Bazo - 28.fev.2016/Reuters
A candidata esquerdista Verónika Mendoza ganha espaço nas últimas semanas e é a segunda colocada
A candidata esquerdista Verónika Mendoza ganha espaço nas últimas semanas e é a segunda colocada

"Este primeiro turno é quase uma primária. As propostas são muito diferentes, e, como sabem que Keiko está garantida no segundo turno, atacam uns aos outros para conquistar a outra vaga", disse à Folha Alberto Vergara, pesquisador de política andina na Universidade Harvard.

O principal duelo se dá entre o economista conservador Pedro Pablo Kuczynski, 77, e a psicóloga e deputada esquerdista Verónika Mendoza, 35. Nesta quinta (7), sondagens encomendadas por partidos indicavam que Mendoza poderia estar com um ou dois pontos a mais que PPK.

Nos últimos dias, os ânimos entre ambos se acirraram. PPK disse que Mendoza nunca havia feito nada em sua "perra vida" (literalmente, "vida de cachorra"). Depois, se desculpou dizendo que havia usado "uma expressão popular que poderia ser mal-entendida".

Não só as feministas e a esquerda reclamaram como políticos nacionalistas do partido Apra apontaram o fato de PPK não ter o espanhol como primeiro idioma. Filho de poloneses nascido em Lima, foi educado na Inglaterra (Oxford) e nos EUA (Princeton).

Mendoza, por sua vez, vem atacando a ingerência de religiosos na campanha, uma tradição peruana. No último domingo (3), o arcebispo de Arequipa, Javier del Río, havia pedido, em um sermão, que os fiéis não votassem em candidatos de esquerda, pró-aborto e pró-casamento gay.

Referia-se a Mendoza e a Alfredo Barnechea, quarto colocado. Os demais candidatos se opõem à duas coisas.

IMPUGNAÇÕES

Tanto PPK como Mendoza são sobreviventes de um processo que começou há algumas semanas, quando o Tribunal Nacional de Eleições impugnou os candidatos que, até então, eram o segundo e o terceiro colocados.

Primeiro, foi eliminado Julio Guzmán, sob alegação de que a escolha dentro de seu partido, o Todos pelo Peru, não havia seguido as regras. Depois, César Acuña foi acusado de violar a lei eleitoral que veta oferecer pagamentos ou benefícios a eleitores.

Por conta disso, o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, disse que o processo está sendo "semidemocrático".

Cinco candidatos encerraram campanha nesta quinta (7) em Lima, causando grandes mobilizações e trancando ainda mais seu trânsito caótico de fim de tarde.

Keiko Fujimori expressou sua indignação com o fato de o presidente Ollanta Humala ter celebrado a marcha antifujimorista. Já PPK afirmou ser uma opção de centro: "para estar comigo, não é preciso estar contra ninguém".

Na praça 2 de Maio, Verónika Mendoza voltou seu discurso para os jovens. "O Peru já se cansou de seu autoritarismo e corrupção. Verónika é diferente e jovem", diz o estudante Andrés Romero.


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