Folha de S. Paulo


Temendo novos reveses nas prévias dos EUA, Trump tenta conter gafes

Donald Trump reconhece: ele errou.

"Talvez tenha sido mancada", disse o pré-candidato republicano à Casa Branca no sábado (2), sobre uma foto que publicou no Twitter da mulher do adversário Ted Cruz fazendo careta.

Scott Olson/Getty Images/AFP
O pré-candidato presidencial republicano Donald Trump concede entrevista em Wisconsin
O pré-candidato presidencial republicano Donald Trump concede entrevista em Wisconsin

Não foi a única "mancada" computada nos últimos dias por sua campanha, que entrou em modo de controle de danos para tentar evitar uma má performance nas prévias desta terça-feira (5) em Wisconsin.

O esforço não foi suficiente. Por volta das 22h30 locais (0h30 em Brasília), com 65% dos votos apurados, Ted Cruz vencia com 49,7% dos votos, contra 33,3% de Trump e 14,6% do governador de Ohio, John Kasich.

Do lado democrata, o senador por Vermont Bernie Sanders liderava 56,2% dos votos, contra 43,7% da ex-secretária de Estado americana Hillary Clinton.

O medo é que um desempenho aquém do demonstrado até então leve Trump a perder fôlego nas próximas etapas estaduais. Se isso ocorrer, as causas já foram traçadas. Sua equipe detectou uma série de tropeços nas duas semanas que antecederam a votação.

Além de comparar Heidi Cruz com sua própria mulher, uma ex-modelo, ele menosprezou a Otan (a aliança militar ocidental, que Trump classificou de "obsoleta") e incentivou uma corrida nuclear no Oriente contra a Coreia do Norte.

Chegou a mudar, em três horas, três vezes de opinião sobre o aborto —e pegou particularmente mal sugerir que mulheres fossem punidas por interromper a gravidez (depois se corrigiu: só os médicos deveriam ser punidos).

Para Wendy Schiller, coordenadora de ciência política na Universidade Brown, "a imagem de Trump reside na sua capacidade de 'fechar negócios' e 'ganhar'".

SEM PLANO B

Os últimos dias, porém, revelaram "que ele não tem um plano B para quando algo não vai como ele espera", e isso pode lhe custar a chance de disputar a Presidência.

Para correr atrás do prejuízo, Trump adotou medidas que vão de abrir mais espaço na campanha para as mulheres da família a contratar um velho conhecido de um dos seu alvos prediletos, o establishment republicano.

O lobista Paul Manafort foi conselheiro nas campanhas de Gerald Ford (1976), Ronald Reagan (1980) e os Bush pai (1988) e filho (2000).

Em uma rede social, Trump fez outro aceno aos caciques. "Acabei de ter uma reunião muito agradável com Reince Priebus [presidente do Comitê Nacional Republicano]. Ansioso para unificar o partido!", escreveu no dia 31.

Desaprovado por 63% das mulheres americanas, segundo pesquisa "New York Times"/CBS, o empresário também abriu espaço para a ala feminina da família.

Cita mais a filha Ivanka, que pede que ele se comporte "de forma mais presidencial", e escalou a mulher para uma rara aparição no palanque na véspera da votação em Wisconsin. Coube a Melania Trump por panos quentes no estilo do marido. "Se você atacá-lo, ele revidará dez vezes mais forte. Mas não importa se é homem ou mulher, ele trata a todos igual."

Robert Shapiro, professor da Universidade Columbia, vê como nova tática de Trump falar menos de tópicos que o fizeram perder pontos (mulheres) e mais do que agradou seu eleitorado (críticas a imigrantes e muçulmanos ).

Para Peter Beinart, da Universidade da Cidade de Nova York, a mudança no tom pode ter vindo tarde demais.

"Está mais improvável que ele consiga evitar a convenção disputada [quando nenhum dos candidatos obtém maioria simples dos votos e os representantes partidários podem escolher seu candidato sem seguir as urnas]."

Trump se esforça para evitar o cenário. Com limites: ele se recusou a usar um chapéu em formato de queijo num evento em Wisconsin, Estado orgulhoso da produção do laticínio. "Vou passar."

Nesse ponto, ele e o principal rival republicano, Ted Cruz, concordam.

"Tem uma regra de ouro na política: nada de chapéus engraçados", disse o senador ao declinar do mesmo convite.


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