Folha de S. Paulo


FBI alertou Holanda com antecedência sobre irmãos que atacaram Bruxelas

Seis dias antes dos atentados em Bruxelas, o FBI (polícia federal dos EUA) informou a polícia da Holanda sobre os antecedentes criminais e o "histórico terrorista" dos irmãos Khalid e Ibrahim el-Bakraoui, dois dos três homens-bomba envolvidos nos ataques à capital belga do dia 22, que deixaram 35 mortos e cerca de 340 feridos.

A informação foi passada pelo ministro holandês do Interior, Ard van der Steur, em resposta a um questionário de 166 perguntas feito pela Câmara de Deputados da Holanda no dia 24, como parte de uma investigação da Casa sobre o que o governo sabia a respeito do grupo que organizou as ações na vizinha Bélgica.

O Ministério do Interior enviou as respostas aos deputados na segunda (28), que se tornaram públicas nesta terça (29).

AFP
(COMBO) This combination of handout pictures obtained via Interpol on March 23, 2016 shows Khalid (L) and Ibrahim (R) El Bakraoui, the two Belgian brothers identified as the suicide bombers who struck Brussels on March 22, 2016, as a manhunt for a third assailant in Belgium's bloodiest terror assault gained pace. Two suicide blasts hit Brussels' Zaventem airport on March 22, 2016 morning followed soon after by a third on a train at Maalbeek station, close to the European Union's institutions, just as rush-hour commuters were heading to work. The triple blasts that killed some 30 people and left around 250 injured was claimed by the Islamic State jihadist group. / AFP PHOTO / Interpol / - / RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT
Irmãos Khalid (à esquerda) e Ibrahim el-Bakraoui, que cometeram ataques suicidas em Bruxelas

De acordo com Van der Steur, "no dia 17 de março [um dia depois de receber o aviso do FBI] houve um contato bilateral entre os serviços policiais da Holanda e da Bélgica". Nessa reunião, segundo a resposta por escrito do ministro, "o histórico radical dos irmãos foi discutido".

Em nota divulgada nesta terça (29), a polícia federal da Bélgica nega ter tido conversas sobre os irmãos Bakraoui no dia 17, quando um representante holandês foi a Bruxelas. De acordo com os belgas, falou-se sobre um tiroteio em Bruxelas ocorrido no dia 15, quando um atirador muçulmano foi morto, mas não houve menção ao relatório do FBI enviado ao governo holandês.

FALHAS

O episódio expõe ainda mais falhas de comunicação dos serviços de inteligência da Bélgica e da Holanda, que não conseguiram impedir os ataques apesar dos alertas externos sobre os envolvidos, especialmente os irmãos Bakraoui.

Em julho de 2015, Turquia deteve o belga Ibrahim, 29, sob a suspeita de que ele queria chegar à Síria para se unir à facção terrorista Estado Islâmico. Como a Bélgica não pediu sua extradição, afirmando não haver crime comprovado contra Ibrahim, ele foi enviado para a Holanda em 14 de julho do ano passado.

Na resposta aos deputados, o ministro holandês diz que a polícia belga perguntou no dia seguinte (15 de julho) a Amsterdã se o nome de Ibrahim constava nos sistemas de segurança holandeses. Nada foi encontrado na busca. O governo turco afirma, porém, que tanto a Bélgica quanto a Holanda foram avisadas de que Ibrahim estava sendo deportado e era um "combatente estrangeiro".

Como Ibrahim é cidadão belga, voltou a poder circular livremente dentro do Espaço Schengen (que garante esse direito em 22 dos 28 países-membros da UE) e, por isso, a Holanda afirma não ter registro de quando ele voltou à Bélgica.

Segundo Van der Steur, as autoridades americanas lhe confirmaram que só incluíram Ibrahim numa lista dos serviços de inteligência para indivíduos de "possível ameaça terrorista", à qual o governo holandês não tinha acesso, em 25 de setembro de 2015, quando provavelmente ele já havia voltado para a Bélgica.

O irmão dele, Khalid, 27, estava na lista de procurados da Interpol desde dezembro, acusado de atividades terroristas depois de a polícia ter descoberto que ele alugou, com um nome falso, um apartamento usado pela célula dos ataques de novembro.


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