Folha de S. Paulo


Escudeiro de Trump é indiciado sob acusação de agredir repórter

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Age como o valentão, usa o Twitter para desancar críticos, manda bananas para os caciques republicanos e tem fama de agredir mulheres.

Poderia ser Donald Trump. Não é, mas esta maçã não caiu longe do pé: ao se entregar à polícia de Jupiter (Flórida) nesta terça (29), acusado de deixar hematomas numa repórter ao agarrá-la pelo braço, o coordenador da campanha do pré-candidato republicano, Corey Lewandowski, reforçou a imagem de dinamite, à moda do patrão.

Assim como as polêmicas de Trump não parecem feri-lo nas urnas, Lewandowski, 42, tem saído incólume de tropeços que, em outros casos, teriam rendido uma carta de demissão. Seu chefe o apoia incondicionalmente.

No Twitter, Trump respaldou o mosqueteiro, "um homem muito decente", e ironizou Michelle Fields, a jornalista do site conservador "Breitbart News" que disse ter sido puxada ao tentar fazer uma pergunta sobre ação afirmativa ao candidato.

O incidente ocorreu em 8 de março. Preso e solto na terça, Lewandowski terá de se apresentar à corte em maio.

Ele nega a versão de Fields. "Você está delirando. Nunca te toquei. Nem sequer te conheço", escreveu no Twitter.

Fields rebateu publicando no microblog uma foto do braço arroxeado. "Surgiram magicamente. Estranho."

NA CASA BRANCA

Com cabelo escovinha e quase tão alto quanto o empresário de 1,90 m, Lewandowski aspira ser o próximo chefe de gabinete da Presidência. Antes, precisa alçar seu candidato à Casa Branca.

Para isso, escreveu na lousa de seu escritório: "Deixe Trump ser Trump". Sob o lema, o candidato antes tomado como piada já derrotou 14 rivais —hoje está à frente de Ted Cruz e John Kasich.

Para Trump ser Trump, Lewandowski precisa ser Lewandowski. Menos ideólogo e mais capataz, já repreendeu um coordenador em New Hampshire em cena descrita pelo "Wall Street Journal": "Meu chefe trabalha 20 horas por dia, você, não".

"Este sujeito era uma presença beligerante, com um ar de 'queime este desgraçado' que me pareceu perigoso", lembra o colunista do "Washington Post" Jonathan Capehart, que viu Lewandowski num painel de 2011 sobre "erros de Washington".

O estrategista ganha cerca de US$ 20 mil por mês, segundo o site Politico, que publicou um perfil no qual o descreve como um "homem-bomba" com histórico de pegar pesado com repórteres e de ser "sexualmente sugestivo" com algumas delas.

A conexão Lewandowski-Trump veio pelo líder do grupo ativista conservador Citizens United. Ao "New York Times", David Bossie disse que o assessor "é antiestablishment como Trump".

O currículo o contradiz.

Ele foi chefe de gabinete do republicano Bob Ney, o deputado que sugeriu trocar o nome"french fries" (como as batatas fritas são chamadas em inglês) por "freedom fries" ("fritas da liberdade") após a França não aderir à coalizão que atacou o Iraque em 2003.

Chefiou a campanha perdida para a reeleição do senador Robert Smith, que já protestou contra o aborto esfaqueando um feto de plástico. Passou ainda pelo Comitê Nacional do partido e, por sete anos, foi diretor regional da conservadora Americans for Prosperity, patrocinada pelos irmãos bilionários lobistas Charles e David Koch.

Quando dava expediente no Congresso, virou notícia por levar uma arma descarregada para o trabalho no meio da roupa pega na lavanderia.

Criado em Lowell, Massachusetts, Lewandowski estudou numa escola católica e tem mestrado em ciência política. É pai de quatro crianças com Alison, ex-professora e viúva de um passageiro de um dos voos que colidiu contra o World Trade Center, segundo o "Lowell Sun".

Para Robert Erikson, da Universidade Columbia, é o homem certo no cargo. "Ele é talentoso e tem a confiança do chefe", disse à Folha. "E estrategistas bambambãs não trabalhariam para um 'outsider' como Trump."


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